"Conheço um missionário na Amazônia, que, depois de anos, jamais havia pronunciado mesmo o nome de Jesus". Com estas palavras aterradoras, escritas no Jornal do Brasil em 14 de outubro de 2000, o saudoso cardeal Eugênio Sales exprimia sua estupefação diante do irenismo de certos padres atuantes no Amazonas, os quais, acintosamente, deslembravam da ordem de Jesus Cristo: "Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei" (Mt 28, 19). 

Oxalá a ideologia diabólica do politicamente correto não afete o sínodo de outubro próximo futuro! Na aurora da história do Brasil, os jesuítas, cônscios de sua missão religiosa, catequizavam os índios, regalando-os com o ouro do evangelho, dos sacramentos e, principalmente, da santa missa, mas, salvaguardavam a cultura aborígene, inclusive na defesa dos autóctones contra os sanguinários escravizadores. A ação evangelizadora não implica menoscabo da cultura própria dos índios. Uma coisa não elimina a outra. A experiência religiosa dos indígenas locupleta-se e se purifica com o adminículo do evangelho. 

Nossos irmãos separados, os protestantes que trabalham na Amazônia, acertadamente, não se deixam persuadir pelo relativismo e, destarte, a seu modo, pregam abertamente o evangelho, falam de Jesus e anunciam-no como o único salvador da humanidade. Daí o fato de os evangélicos abundarem naquela região, inclusive entre os aborígenes. 

São Paulo VI lança a seguinte advertência: "Evangelizar é a graça e a ação própria da Igreja, sua identidade mais profunda" (Evangelii Nuntiandi, n. 35). A mefistofélica cosmovisão politicamente correta emascula a pastoral missionária, reduzindo-a à promotora da libertação sociopolítica dos índios ou à protagonista ecológica. Facetas importantes, porém, não é isto que caracteriza a religião católica. É mister ofertar aos índios e aos povos amazônicos a doutrina e os sacramentos. Deve-se propor, e não impor nada a ninguém. Todavia, os missionários católicos não hão de se quedar silentes diante das "palavras de vida eterna" de Jesus Cristo (Jo 6, 68), negando-as aos índios ou, então, equiparando-as às tradições da religiosidade animista. 

Na condição de leigo e canonista, sonho que o sínodo romano de outubro futuro promoverá o resgate da identidade da Igreja católica na Amazônia, incluindo a observância do uso da indumentária eclesiástica pelos padres, consoante ordena o código canônico (cânon 284). Não se trata de requisito de somenos relevância; já se começa a evangelizar pela batina nada politicamente correta! 

O insigne purpurado, ao qual me referi no limiar deste artigo, exprobrava sobremaneira o politicamente correto e, por conseguinte, pôde lamentar, no mesmo texto acima citado, "que quem experimentou a alegria de ter consigo Jesus não pode egoisticamente guardá-la para si." 

 

Edson Luiz Sampel 

Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo (da Arquidiocese de São Paulo)