O apóstolo Paulo mostra os parâmetros que envolvem o sentido da justiça na bíblia, quando ele diz: “Nele se revela a justiça de Deus, que vem pela fé e conduz à fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’” (Rm 1,17). Isso significa que a justiça está em sintonia com a vontade de Deus e na realização autêntica dos atos do ser humano na relação com as pessoas e com toda a natureza.

As leis são promulgadas para fazer acontecer, na prática, o cumprimento da justiça entre as pessoas. Os fariseus e doutores da lei quiseram incriminar Jesus dizendo que Ele não observava as leis de seu tempo. Ele era inclusive colocado à prova porque não poderia ser contra as leis. Mas para Jesus a pessoa humana está acima da lei, principalmente quando o seu cumprimento ocasiona injustiça.

As palavras bíblicas mostram claramente que Deus age com justiça e é misericordioso, que perdoa a mulher adúltera (Jo 8,1-11), exige mudança de vida e fará seu julgamento final. Então, estão bem relacionadas, a justiça, a misericórdia e o cumprimento das leis que, para fazer o bem, devem ser justas. Querem justificar determinados erros instrumentalizando a aplicação das leis, fazendo injustiça.

As repetidas práticas de injustiça acabam chegando a um final desconcertante. Como diz o ditado: “Mais cedo ou mais tarde a casa cai”. Significa que a injustiça não se justifica e não tem estabilidade. E estamos assistindo as consequências dessa realidade. Podemos citar os acontecimentos drásticos dos últimos tempos, violência, prisão de políticos, derramamento de lama etc.

Para o sentimento bíblico, a ação de injustiça mina a riqueza contida na vida cristã, destrói a conduta de quem a pratica e causa transtornos de identidade pessoal. A consciência do ser humano é um lugar sagrado, onde mora a divindade. E é justamente nela que o indivíduo consegue construir a vida de sintonia e de amor com Deus e realizar o exercício pleno da justiça e da caridade.

Sem nenhum legalismo e nem intimismo, podemos dizer que a verdadeira justiça significa fazer um processo de identificação com Jesus Cristo, ser seguidor de seus ensinamentos, mesmo que para isto haja sofrimentos. Também passa pela participação nas políticas públicas dentro do caminho de conversão proposto pela Campanha da Fraternidade deste ano e pelo tempo da quaresma.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.