Existe uma grande diferença entre os atos praticados por interesse, e atos interesseiros. No primeiro caso é a realização do que se pretende, de maneira honesta e verdadeira. O interesseiro age de forma enganosa e sem responsabilidade, não respeita os direitos que outras pessoas têm em relação ao que ele está pretendendo. Talvez seja o perfil de lideranças que agem apenas em benefício próprio.

Vemos na bíblia que Jesus demonstrava grande interesse por pessoas fragilizadas e procurava agir em benefício delas. Ao relacionar-se com pecadores e pessoas abastadas, demonstrava uma postura de quem pretendia atingir o coração insensível daqueles que não abriam mão de seus privilégios. Não era uma atitude interesseira e nem evasiva, porque seu objetivo não era voltado para si mesmo.

A bíblia conta a história de um pai que tinha dois filhos. O mais novo sai de casa e leva a herança, mas sem objetivos claros sobre o que ia fazer. Não tinha interesse por uma vida consolidada na responsabilidade. Ele acaba perdido na vida e sem amparo. O mais velho, mais criterioso, continuou ao lado do pai. Seu irmão resolve voltar para casa e é rejeitado por ele e fica revoltado.

Na história acima, identificamos um filho sem interesse e outro interesseiro. Esse último imaginava ser o único herdeiro e não aceita partilhar a riqueza. As atitudes da cultura moderna caminham por essas trilhas, mas com muita falta de objetividade. O caso de Suzano e da Nova Zelândia, como em diversos outros, reflete a perda do sentido da vida, o conflito de interesses geradores de morte.

Na proximidade da Páscoa, renovação da aliança do humano com o divino, as pessoas são chamadas a reconhecer a vida como dom de Deus. Significa que a convivência e o diálogo são essenciais para valorizar o que de mais importante a humanidade tem. A pessoa não é proprietária da vida, mas sim sua defensora. São chocantes as cenas de violência que assistimos ultimamente contra esse dom.

Não podemos avaliar as pessoas pelas aparências, como de má ou boa conduta. Na visão cristã, no contexto pascal, o cristão deve ser uma nova pessoa, com espírito novo e aberto para ajudar a quem necessita. Pessoa de paz, que fez o processo da conversão e desinteresseira, mas extremamente interessada na construção do bem e de uma sociedade calcada na força da fraternidade.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.