Durante a vida, conjugamos muitos verbos, porque, diuturnamente, praticamos ações. O primeiro é nascer; o derradeiro, morrer. Mas, há um verbo, ressuscitar, o qual, relativamente a todos os homens de todos os séculos, não se conjuga no presente, nem no passado; só no futuro. A exceção ocorre quando o sujeito da oração for Jesus ou a virgem Maria, que já ressuscitaram, cabendo, em tal hipótese, o pretérito perfeito. O verbo ressuscitar liga-se a tempo gramatical escatológico. Eu ressuscitarei, tu ressuscitarás, ele ressuscitará etc., mas fora do tempo convencional e no fim do mundo. Impossível e antigramatical, portanto, a sentença “o finado ressuscitou”, apregoada por certos padres nalgumas exéquias.   

Ao largo da existência, conjugamos principalmente (ou deveríamos conjugar) estes verbos transitivos diretos: conhecer (Deus e somente o que leva a Deus), adorar (Deus), amar (Deus, Maria santíssima, os santos e o próximo), servir (Deus, o próximo), bem como os intransitivos: trabalhar, comer e descansar. Trata-se dos verbos essenciais, que englobam inúmeros outros. Por exemplo, dar também é uma forma de amar. Quem reza ama Deus.  O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica ensina que o homem foi criado para conhecer, amar e servir Deus!  

Posto isto, vejamos os verbos conjugados pelo padre. O sacerdote (bispo ou padre) conjuga sobretudo seis verbos, a saber: batizar, crismar, missar, absolver, untar ou ungir e ordenar ou padrar ou bispar (Obs.: não se trata de invencionices; estes verbos realmente se encontram no dicionário). Cada verbo corresponde a um dos sacramentos instituídos por Jesus Cristo. O mais importante é missar ou celebrar missa. O verbo matrimoniar ou casar, referente ao sétimo sacramento, é conjugado apenas pelos leigos.

Na conjugação dos verbos citados no parágrafo anterior condensa-se o sacrossanto ministério do sacerdote. Alguém criticou este ponto de vista, tachando-o de “ótica excessivamente sacramental”, instando argumento vertido na seguinte frase: “prefiro o verbo acompanhar, isto é, o padre que acompanha o povo a caminho”. Mas, o confessor que absolve, também não acompanha o itinerário do penitente? Os seis verbos que o sacerdote conjuga, sobre prorromperem a graça ex opere operato, constituem paradigmas de infindáveis atividades humanas imbuídas de sentido pastoral.

O importante é que o clérigo se mantenha concentrado no seu múnus típico, realizado através dos seis verbos supramencionados. Cantar, por exemplo, não é verbo que denote ação essencial afeta ao ministério. Em suma, o povo de Deus necessita pura e simplesmente do evangelho e dos sacramentos. Não precisa de mais nada, pelo menos da parte da Igreja.

 

Edson Luiz Sampel

Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo

(da Arquidiocese de São Paulo)

Consócio n.º 108/91