Denominam-se sede-vacantistas os “católicos” que não reconhecem o atual papa como legítimo sucessor de são Pedro. Poucos têm coragem de assumir seu espírito favorável à ideia nefasta da sé petrina vacante (cadeira vazia de Pedro). Certos ambientes filo-tradicionalistas da Internet criticam o papa Francisco o tempo inteiro. Nos últimos decênios, nunca se invectivou tanto um papa com o chamado fogo amigo. Certo blog “católico” ostenta até o retrato de Francisco, mas, na prática, com críticas ferozes e descaridosas, atua como órgão midiático sede-vacantista.

Para que alguém não seja sede-vacantista, é insuficiente afirmar que reconhece a validade da eleição do papa. Só não será mesmo sede-vacantista quem prestar a Francisco o obséquio religioso da obediência. Caso contrário, será, na prática, desditoso sede-vacantista. Analogicamente, fenômeno similar ocorre com os que não se dizem ateus, ou, dizem crer em Deus, movidos mesmo por superstição, mas agem como se Deus não existisse, furtando bens, mentindo, matando, faltando à missa dominical etc. Não são ateus teóricos, mas ateus práticos. Dá na mesma!

Quase ninguém tem defendido o papa Francisco. As acusações contra o bispo de Roma revelam-se inconsistentes.  Ultimamente, a maior angústia dos sede-vacantistas práticos advém do teor do capítulo VIII da Amoris Laetitia. Quatro cardeais, três deles aposentados, contestaram o magistério ordinário de Francisco, seguidos por muitas pessoas insipientes. Foi preciso um leigo, Stephen Walford, escrever o livro O papa Francisco, a família e o divórcio, para provar, tim-tim por tim-tim, que o tratamento caso a caso apregoado na Amoris Laetitia para a comunhão eucarística dos recasados estriba-se em princípios morais ensinados por ninguém menos que santo Tomás de Aquino.

Os “católicos conservadores”, “fiéis” à tradição, deveriam, em primeiro lugar, cumprir a lei canônica, nomeadamente o cânon 752 do CIC, traduzido abaixo:

Não assentimento de fé, mas religioso obséquio da inteligência e da vontade deve ser prestado à doutrina que o sumo pontífice ou o colégio dos bispos, ao exercerem o magistério autêntico, enunciam sobre a fé e os costumes, mesmo quando não tenham a intenção de proclamá-la por ato definitivo; portanto, os fiéis procurem evitar tudo que não esteja de acordo com ela.  

A soberba que engendrou certa teologia da libertação antagônica à sã doutrina, porém apetecível aos livres pensadores ou teólogos liberais, igualmente suscita a revolução dos sede-vacantistas práticos. O remédio, obviamente, é a humildade para uns e outros.

Edson Luiz Sampel

Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo

(da Arquidiocese de São Paulo).

Consócio 108/91