Em 2013, o teólogo Clodovis Boff, OSM, deu uma entrevista “bombástica” para o jornal Folha de São Paulo. Adjetivamos a entrevista com esse lugar-comum desgastado, que significa “estrondoso”, não porque Boff haja se excedido em ilações teológicas; muito pelo contrário! As respostas do teólogo ao diário paulista descortinam claríssima congruência com o magistério da Igreja.

Para empregar, cum grano salis, a nomenclatura da pragmática hodierna das “delações premiadas”, o religioso, então prócer da teologia da libertação, delatou as mazelas de uma teologia da libertação malsã, de viés marxista, infelizmente, o ramo que preponderou durante muito tempo.  O prêmio da delação dos companheiros, ou melhor, da ideologia dos colegas da libertação (o cristão não alcagueta ninguém!), não foi entregue ao eminente “delator”, mas ao povo de Deus, especialmente a outros teólogos, os quais caíram em si e passaram a emular o membro da Ordem dos Servos de Maria, que com autoridade de teólogo da libertação, pôs os pingos nos is (e nos jotas também!).

Recordemo-nos de algumas frases, entre aspas, da esclarecedora entrevista concedida à Folha de São Paulo.

Bento XVI, inimigo da teologia da libertação?

“Isso é uma caricatura. Nos dois documentos que publicou, Ratzinger defendeu o projeto essencial da teologia da libertação: compromisso com os pobres como consequência da fé. Ao mesmo tempo, critica a influência marxista. Aliás, é uma das coisas que eu, também, critico.”

E os processos inquisitoriais contra alguns teólogos?

“Ele [o cardeal Ratzinger] exprimia a essência da Igreja, que não pode entrar em negociações quando se trata do núcleo da fé. A Igreja não é como a sociedade civil, onde as pessoas podem falar o que bem entendem. Nós estamos vinculados à fé. Se alguém professa algo diferente dessa fé, está se autoexcluindo da Igreja.”

Jon Sobrino

“O jesuíta espanhol diz: ‘A teologia nasce do pobre’. Roma simplesmente responde: ‘Não. A fé nasce em Cristo e não pode nascer de outro jeito’. Assino embaixo”.

Quando Clodovis Boff se tornou crítico da teologia da libertação

“Desde o início. Sempre fui claro em colocar Cristo como fundamento de toda teologia. No discurso hegemônico da teologia da libertação, eu notava que essa fé em Cristo só aparecia em segundo plano”.

Bento XVI sepultou os avanços do Concílio Vaticano II?

“Quem afirma isso acredita que o Concílio Vaticano II criou uma nova Igreja e rompeu com 2.000 anos de cristianismo. É um equívoco. Bento XVI garantiu a fidelidade ao concílio. Ao mesmo tempo, combateu tentativas de secularizar a Igreja, porque uma Igreja secularizada é irrelevante para a história e para os homens. Torna-se mais um partido, uma ONG.”

 

Karl Rhaner, dom Eugênio Sales e o cristão anônimo  

“Nos anos 70, o cardeal dom Eugênio Sales retirou minha licença para lecionar teologia na PUC-Rio. O teólogo que assessorava o cardeal, dom Karl Joseph Romer, veio conversar comigo: ‘Clodovis, acho que nisto você está equivocado. Não basta fazer o bem para ser cristão. A confissão de fé é essencial.’ Ele estava certo.”

Como Clodovis vê o futuro da Igreja

“A modernidade não tem mais nada a dizer ao homem pós-moderno. Quais são as ideologias que movem o mundo? Todas perderam a credibilidade. Quem tem algo a dizer? As religiões e, sobretudo no ocidente, a Igreja católica.”

 

Edson Luiz Sampel

Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo

(da Arquidiocese de São Paulo).

Consócio 108/91.