Ao lado da liberdade e da gratuidade encontramos também a justiça. Todas essas virtudes são dons de Deus, porque “a lei do Senhor Deus é perfeita, alegria do coração” (Sl 18). A justiça nesse contexto é entendida como retidão, significando que não é possível aceitar um modo de viver de forma injusta e prejudicial às pessoas. Não confundir liberdade e gratuidade com arbitrariedade.

Agir com liberdade significa maturidade, critério de respeito em relação ao outro, reconhecendo o valor da identidade de cada pessoa. Isso conduz também à gratuidade, ao reconhecimento da riqueza contida na capacidade de poder fazer o bem. A gratuidade amadurece a pessoa e faz com que ela seja solidária para com as outras de seu convívio. Eleva sua autoestima e a faz viver bem.

Um dado importante na vida das pessoas é a capacidade de doação, de ir ao encontro dos outros. É ato de liberdade, que sai de dentro da pessoa com inspiração de fazer o bem. No Evangelho diz que o maior entre eles era o servidor de todos (cf. Mt 9,35). Todas essas realidades supõem tolerância e sabedoria como instrumentos de convivência na liberdade e na gratuidade.

Saber administrar bem a própria conduta não é tão fácil, porque todos nós trazemos as marcas e as influências da maldade proporcionadas pelo espírito do mundo. Na verdade, o bem e o mal estiveram sempre misturados na história das culturas e, muito mais hoje quando presenciamos uma realidade totalmente secularizada. Mas não podemos deixar que o mal extirpe o bem em nossos atos.

Liberdade não significa poder praticar escândalos e nem conduzir as pessoas para a prática do mal. O apóstolo Paulo diz: “Não damos a ninguém motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado” (II Cor 6,3). É livre quem reconhece valores na vida dos outros e consegue despertar nas pessoas a prática da responsabilidade no gerir a vida social e comunitária.

A liberdade da fé supõe solidariedade humana, adesão não só a um projeto de vida, mas a uma pessoa, a Jesus Cristo, a um caminho de tolerância e de acolhida fraterna. Quem assim age sente o dever da gratidão, porque o olhar de Deus penetra no seu interior e o transforma por dentro. Com isso a pessoa é capaz de sair de sua autorrefencialidade e praticar atos de gratuidade.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.