Há quem diga que a recitação dos mistérios luminosos é facultativa. Os que isto afirmam estribam-se nas próprias palavras de são João Paulo II. De fato, a propósito dos mistérios da luz, está escrito na carta apostólica  Rosarium Virginis Mariae:

“Considero, no entanto, que, para reforçar o espessor cristológico do rosário, seja oportuna uma inserção que, embora deixada à livre valorização de cada pessoa e das comunidades, lhes permita abraçar também os mistérios da vida pública de Cristo entre o batismo e a paixão”(19b, grifos nossos).

Em primeiro lugar, o fiel ou a comunidade que deixar de meditar os mistérios luminosos precisa basear-se em motivos seriíssimos. Haverá tais motivos? Não se trata de puro capricho da piedade do católico isoladamente ou de determinado grupo de oração! Com efeito, na carta acima referida, declina são João Paulo II as razões pelas quais introduziu os mistérios da luz na récita do terço:

“Para que o rosário possa considerar-se mais plenamente ‘compêndio do evangelho’, é conveniente que, depois de recordar a encarnação e a vida oculta de Cristo (mistérios da alegria), e antes de se deter nos sofrimentos da paixão (mistérios da dor), e no triunfo da ressurreição (mistérios da glória), a meditação se concentre também sobre alguns momentos particularmente significativos da vida pública (mistérios da luz). Esta inserção de novos mistérios, sem prejudicar nenhum aspecto essencial do esquema tradicional desta oração, visa fazê-la viver com renovado interesse na espiritualidade cristã, como verdadeira introdução na profundidade do coração de Cristo, abismo de alegria e de luz, de dor e de glória” (19c, grifos nossos).

Como vemos, o papa santo ensina que recitar os mistérios da luz implica a renovação da espiritualidade cristã, bem como o ingresso no coração de Cristo. Como não encarar a pretensa facultatividade apenas como lampejo da humildade de são João Paulo II?

Na verdade, são João Paulo II, no cargo de vigário de Cristo, ofertou-nos magnífica dádiva: o rosário mais abrangente. Maria santíssima não referendará a indigitada inserção promovida pelo “doce Cristo na Terra”? No meu modo de ver, somente a soberba explicaria a não recitação dos mistérios propostos pelo humílimo representante de Cristo.  

Por fim, do ponto de vista da práxis eclesial, a recitação dos mistérios da luz é parte integrante do rosário e, por conseguinte, não pode ser deixada ao simples alvedrio do fiel ou dalgum grupo. A princípio, os mistérios da luz, obrigatoriamente, têm de ser meditados toda quinta-feira!

Edson Luiz Sampel

Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo (da Arquidiocese de São Paulo)

Consócio da SBC.