Diante da realidade brasileira, de um país com aproximados quatorze milhões de desempregados, fica até difícil falar do valor e da importância do trabalho. Ele é um dos instrumentos que dignifica a pessoa e a dá condição de vida digna. Constitui uma das formas de sustentação econômica dos cidadãos. Estando sem trabalho, eles ficam fragilizados, inclusive psicologicamente e até perdem o rumo.

Trabalhar significa cuidar da vida e possibilitar a elevação da autoestima do trabalhador e o progresso da vida humana. Não é saudável uma sociedade que explora o trabalhador e endeusa a riqueza de forma desonesta. Os frutos do trabalho devem ser socializados, dando oportunidade de vida para todos, superando uma realidade em que grande parte da população passa fome.

O Evangelho fala da vinha do Senhor, para onde vão os trabalhadores, com o objetivo de fazê-la produzir frutos bons (Mt 21,33s). O cultivo da vinha exige muito esforço e dedicação. Isso deve ser a prática de todo trabalhador, porque precisa trabalhar de forma honesta, para merecer a recompensa por aquilo que faz. A exploração não ajuda, seja do patrão ou do trabalhador.

A importância do trabalho deve coincidir com a justiça e o direito que o acompanham. Baseado na doutrina da justiça social, todo bem próprio e acumulado deve ser socializado, isto é, ter função social, disponibilizando trabalho para quem dele necessita. É uma questão até de direito dentro de uma sociedade bem organizada e preocupada com a prosperidade de sua população.

O trabalho tem sido sacrificado com a forma de gestão do nosso país. O enfraquecimento da economia familiar, a concentração econômica das atividades do agronegócio, o crescente e constante desaquecimento da indústria têm ocasionado forte crescimento do desemprego. Enxergamos um momento de sofrimento da população, formando uma cultura de desespero e refletindo na violência.

O desânimo causa comodismo endêmico e vida subumana, engrossando as fileiras daqueles que não conseguem produzir nem o necessário para sua sobrevivência e vivem subjugados no mundo do sofrimento. Sem trabalho o país caminha naufragado e refém de todo tipo de conflito interno e sem paz. Ainda é tempo de recomeçar e “avançar para águas mais profundas” (cf. Lc 5,4), no dizer de Jesus.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba