Meus caros irmãos e irmãs, 

Estamos prestes a concluir o ano litúrgico e bem às portas do tempo do advento, no qual iremos nos preparar para o Natal do Senhor e também para a sua segunda vinda. A primeira leitura (cf. Ml 3,19-20) e o Evangelho (cf. Lc 21,5-19) incidem no tema escatológico propício destes últimos domingos. A perícope evangélica nos oferece uma reflexão sobre o percurso que a Igreja é chamada a percorrer até à segunda vinda de Jesus. A missão dos discípulos em caminhada na história é comprometer-se na transformação do mundo, de forma que a antiga realidade desapareça e nasça um novo Reino. Esse caminho será percorrido com dificuldades e perseguições; mas os discípulos terão sempre a ajuda e a força de Deus. 

O Evangelho nos traz uma profecia e uma promessa. A profecia é sobre o fim dos tempos. E a promessa é sobre como o Senhor recompensará todos aqueles que se mantiverem fiéis à sua Palavra. O evangelista São Lucas revela aos cristãos os acontecimentos que surgirão: “Haverá grandes terremotos e, em diversos lugares, fome e epidemias; surgirão fenômenos espantosos e grandes sinais no céu” (v. 11). 

Estas palavras eram também usadas pelos pregadores populares da época de Jesus, para ressaltar a queda do velho mundo, ou seja, o mundo do pecado, do egoísmo, da exploração; e também para ressaltar o surgimento de um mundo novo. A questão é, portanto, esta, no tempo intermediário entre a queda de Jerusalém e a segunda vinda de Jesus, o Reino de Deus irá se manifestando e nascerá um mundo novo: um mundo de esperança e de felicidade. 

No tempo de Jesus era bastante comum a ideia de que o mundo antigo já estava muito corrompido e deveria desaparecer, para que pudesse surgir um mundo novo. Pensava-se que, na hora da passagem do mundo antigo para o novo, os homens seriam tomados por um grande pavor, os povos e as nações se envolveriam em tumultos, violências, doenças, calamidades e guerras. 

Este modo de falar, estas imagens, chamadas de apocalípticas, eram comuns no tempo dos apóstolos. 

Também Jesus as usou para dizer aos seus discípulos que tinha chegado o tempo da passagem do mundo antigo para o mundo novo. Trata-se de imagens que indicam ao mesmo tempo anúncio de alegria e de esperança. Por esta razão, Jesus exorta aos seus discípulos: “Não vos assusteis” (v. 9). E pouco depois recomenda: “Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação” (Lc 21,28). 

Este discurso de Jesus é sempre atual, também para nós deve ecoar esta exortação: “Prestai atenção para não serdes enganados. Muitos virão em meu nome” (v. 8). Trata-se de um convite ao discernimento. 

Com efeito, também hoje existem falsos pregadores, que procuram substituir-se a Jesus; personagens que desejam atrair a si as mentes e os corações. Jesus alerta: “Não os sigais!” (v. 8). 

Os cristãos são advertidos para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo, até à segunda vinda de Jesus. Contudo, lembra que os fiéis não estarão sós, pois Deus estará sempre presente. Será com a força Divina que eles enfrentarão os adversários e resistirão à tortura, à prisão e à morte; será com a ajuda de Deus que eles poderão até resistir à dor pela traição de seus próprios familiares e amigos. As palavras de alento deixadas pelo evangelista São Lucas enfatizam a certeza de que Deus não abandona os seus filhos. É essa presença constante e amorosa do Senhor que lhes permitirá enfrentar as forças da morte. É essa força de Deus que levará os discípulos de Jesus a vencer o desânimo, a adversidade e o medo, permitindo renascer a esperança e a coragem para superar as adversidades do mundo presente. É o percurso que todos nós somos chamados a percorrer, até a segunda vinda de Jesus Cristo. 

No meio de todos os desastres e perseguições, Deus está conosco: “Nem um só cabelo cairá de vossas cabeças. Pela vossa perseverança é que haveis de salvar-vos” (v. 18). Na alma verdadeiramente cristã jamais morre a esperança. Mesmo quando tudo parece obscuro, temos a certeza da presença sábia e misericordiosa de Deus. 2 

O evangelista São Lucas põe os cristãos de sobreaviso para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo fora, até à segunda vinda de Jesus. Lucas lembra-lhes, contudo, que não estarão sós. Quando Lucas escreve este texto, tem bem presente a experiência de uma Igreja que caminha e luta na história para tornar realidade o “Reino” e que, nessa luta, conhece os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição e o martírio. As palavras de alento que ele aqui deixa – sobretudo a certeza de que Deus está presente e não abandona os seus filhos, devem constituir uma ajuda inestimável para esses cristãos a quem o Evangelho se destina. 

O discurso escatológico do texto evangélico define, portanto, a missão da Igreja na história: dar testemunho da Boa Nova e construir o Reino. Os discípulos nada deverão temer: haverá dificuldades, mas eles terão sempre a ajuda e a força de Deus. No texto do Evangelho encontramos ainda a admoestação do Senhor: “;Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos alarmeis; é preciso que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim”; (v. 9). Como de fato, desde o início, a Igreja vive na expectativa orante da vinda do seu Senhor, perscrutando os sinais dos tempos e advertindo os fiéis de correntes religiosas, que cada vez anunciam a iminência do fim do mundo. Mas o fim do mundo para cada um de nós pode ser também a hora da nossa morte. Não falando quando isso acontecerá, Jesus queria ensinar que devemos estar sempre vigilantes e preparados. 

Diante deste contexto podesurgir o perigo de um certo desânimo e a atividade diária do trabalho pode perder o sentido perante esta iminente segunda vinda do Senhor, por isto, alguns tessalonicenses estavam deixando o trabalho, para viver na ociosidade, “ocupados em não fazer nada” (2Ts 3,11), por esta razão adverte São Paulo na segunda leitura: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer” (2Ts 3,10). São Paulo recorda o seu próprio exemplo de dedicação ao trabalho dia e noite, para não ser um peso para ninguém (cf. 2Cor 11,8). 

O trabalho tem o seu valor e constitui uma participação da humanidade na ação criadora de Deus, a quem deve imitar, não só pelo trabalho em si, mas também pelo descanso, já que Deus apresentou ao homem a sua própria obra da criação sob a forma de trabalho e descanso (cf. Gn 2,2). E nisto encontramos um eco na oração do Pai Nosso e nas palavras de Jesus: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5,17). 

Saibamos viver fielmente a nossa vocação cristã, não tenhamos medo de dar o bom testemunho de Cristo, para que possamos ser aprovados diante do juízo final. Nossa vida neste mundo é semente de eternidade. Que o Senhor nos conceda a graça de vivermos a santidade que nos fará ganhar o reino de Deus, e que a nossa vida esteja sempre cimentada sobre uma fé firme e perseverante. Possamos também nós aceitar convite de Cristo a enfrentar os acontecimentos quotidianos confiando no seu amor providente. Que Ele seja a nossa força e o nosso sustento perante as guerras e as revoluções, 

Não receemos o futuro, mesmo quando ele pode parecer de aspecto tenebroso. Peçamos ao Senhor que nos conceda a graça de sermos portadores da esperança e que tenhamos sempre a coragem necessária para superarmos todas as dificuldades. Assim seja. 

D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB 

Mosteiro de São Bento – RJ