1. A ESCOLA DE ALEXANDRIA

Nos primórdios do século III a Igreja Alexandrina se desenvolve extraordinariamente e toma novos rumos.  A literatura do anterior se encontrava profundamente atingida pela luta contra os perseguidores eclesiásticos.  Dentro de uma nova orientação, uns  escritores se empenham com afinco no combate e no ataque contra as bruxas, lançando as bases para a edificação de uma teologia mais elaborada, preparando racionalmente a abertura para um estudo científico da revelação.

Até então, nenhum escritor cristão havia considerado o conflito da doutrina cristão como um todo, nem apresenta-lo de maneira sistemática.   A medida que a nova religião se propagava pelo mundo antigo, cada vez mais se fazia necessária a exposição das crenças de maneira ordenada, completa e exata.  Quanto mais crescia o número de convertidos nas classes cultas, tanto mais importante se fazia a necessidade de dar a estes catecúmenos uma instrução a altura de seu meio ambiente e de formar mestres para este fim.  Assim foi que nasceram as escolas teológicas, berço da ciência sagrada.  Foi em Alexandria onde nasceu helenismo: a fusão de culturas oriental, egípcia e grega deu origem a uma nova civilização.  A cultura judaica também encontrou  ai terreno propício, onde o pensamento aludiu mais profundamente a mentalidade hebraica, dando origem a septuagrita.

Quando o cristianismo se estabeleceu na cidade, nos fins do século I, entrou em contato com todos estes elementos.  Consequentemente, surgiu a necessidade da fundação da Escola Teológica.

Alexandria era Igreja numerosa, agitada, efervescente.

 

1.1. PERSPECTIVA TEOLÓGICA.

A escola de Alexandria é o centro mais antigo das ciências sagradas na história do cristianismo.  O meio em que se desenvolveu lhe imprimiu traços característicos: interesse pela  investigação metafísica do conteúdo da fé, preferência pela filosofia de Platão e a investigação alegórica das Sagradas Escrituras.

O método alegórico havia sido utilizado desde há muito tempo pelos filósofos gregos na interpretação dos mitos e fábulas dos deuses, que parecem em Homero e Hesíodo.  Segundo Fílon, o sentido literal da Sagrada Escritura é tão somente o que a sombra é em relação ao corpo.  A autentica verdade esta no sentido alegórico mais profundo.  Os pensadores cristãos de Alexandria adotem este método, porque estavam convencidos de que a interpretação literal é indigna de Deus.  Sem alegoria, nem a teologia nem a exegese teriam realizado os enormes avanços que conseguiam.  Os mesmos pensadores encontraram nos escritos paulinos a colaboração da aplicabilidade alegórica na interpretação do Antigo Testamento.

 

Os membros da Escola de Alexandria contou com valiosa colaboração de famosos alunos e professores. Entre eles citamos  Clemente, Origines, Dionisio, Atanásio e etc.

ORÍGENES

PERSPECTIVA TEOLÓGICA: Na Escola  Antioquina, o objetivo da investigação escriturística era descobrir o sentido mais óbvio.  Uma parte acusava o método alegórico de destruir o valor da Bíblia como história do passado convertendo-a numa fábula mitológica; a outra chamava "carnais" aqueles que se apagavam a uma letra.   Tal Escola estabeleceu como princípio fundamental não reconhecer no Antigo Testamento, figuras de Cristo apenas ocasionalmente.  Uma prefiguração do Senhor ali só era admitida se houvesse semelhança notória e clara analogia.

A diversidade metodológica nada mais era do que um reflexo da filosofia grega.  Seu realismo e empirismo eram influenciados por Aristóteles, pretendendo ser uma escola racionalista, o que lhe induziu a certas heresias.


 


1.2. CLEMENTE

Clemente quis colocar o conhecimento pagão ao serviço da compreensão da Bíblia.  E entre as diversa ciências como aritimética, música, física etc., ele destaca a filosofia como sendo a mais importante.  A filosofia permite ao cristão não só descobrir os erros filosóficos muitas vezes apresentados, como também ajuda a precisar o conteúdo da fé e permite elevar o nível de seu conhecimento.

Um dos aspectos a partir do qual as obras de Clemente não muitas vazes analisadas, sua atitude em relação a filosofia grega.  Num período em que os cristãos em que os cristão mostravam uma hostilidade para com a cultura grega, Clemente foi um dos primeiros a defendê-la e mesmo valorizá-la. A grande conquista de Clemente é  a de ter sido o fundador da teologia especulativa. Sua obra é dirigida a um público de elevado nível cultural notabilizando-se pela confiança na palavra transmitida oralmente.  Procura ser o mais obscuro possível em seus escritos temendo a distorção de seus ensinamentos.

Conhecedor da obra de Fílon, influenciado pelo pensamento grego, Judaico-Alexandriaco e Judaico-Cristão, suas obras são fortemente marcadas pelo gnosticismo, se opondo ao gnosticismo herético e aperfeiçoando um gnosticismo cristão ortodoxo, respeitando profundamente a tradição, relacionando a identidade de Deus do Antigo com o do Novo Testamento.  Defende a teoria de que se pode ser cristão sem nenhuma cultura, mas este precisa ser possuidor de uma certa dialética filosófica para assimilar o conteúdo doutrinário e inteligível da verdade cristã. Isto é, seu sistema teológico está dominado pela doutrina do Logos que forma a Trindade junto com o Pai e Espírito, o que explica seu fracasso já que a teologia está dominada pela idéia de Deus e não pela de Logos.

Eclesiologicamente concebe a hierarquia eclesial em três estratos: episcopado, presbiterado e diaconato. Considera a Igreja como a única Virgem-Mãe  e afirma que se distingue das seitas heréticas - na sua opinião o maior obstáculo para a conversão dos judeus e pagãos pela sensação de divisão que criam - por sua unidade e antigüidade. Declara que o batismo

Suas obras se caracterizam pelo esforço de conduzir o pagão à conversão.  Na exortação aos gregos segure uma progressiva descoberta de deus.  Voltado para o mundo grego apresenta a filosofia revestida de um caráter profético para a descoberta do Logos.  Deixa claro que a verdade chega aos bárbaros pela filosofia.  É através dela que eles adquirem o conhecimento de Deus e o seu perdão.  O que fora a lei para os judeus, fora s filosofia para os gregos; a benevolência de Deus não se restinge aos judeus.  Para que a ação do verbo seja eficaz ala necessita do conhecimento do homem.  A razão humana é o elo pelo qual o sagrado se comunica ao homem.  Mas para que haja tal comunicação o homem deve estar aberto a mensagem de Cristo e empenhado no seu conhecimento.

Para ele a gnose é a realização da pessoa em todas as suas dimensões.  A vida e as palavras e conformadas em si mesmas em sua referência ao verbo divino.  É o desabrochar da fé em harmonia perfeita com a vida.  A fé é uma força propulsora a um aprofundamento dos conhecimentos dos cristãos.  Todavia, ela só existe se a razão possui a firme convicção de sua verdade.


A escola de Alexandria atingiu seu apogeu com Origines, um dos mais ilustres pensadores de todos os tempo. Primogênito de uma numerosa prole cristã, recebeu desde cedo uma esmerada formação não só profana mas também religiosa.  Órfão de pai, ainda muito jovem, se viu obrigado a dedicar-se ao ensino para garantir o sustento da família.  A frente da famosa escola de catecúmenos, atraiu para a cidade um grande número de discípulos movidos não apenas pelos seus  ensinamentos, mas principalmente pelo seu exemplo de vida.

Em relação com a doutrina da Divindade, Orígenes utilizou freqüentemente o termo "trindade", repelindo o modalismo que não distinguia entre as três pessoas divinas. Insiste em que o Filho não teve princípio nem houve um tempo em que não existiria; também deu vida ao termo consubstancial (homoousios) que tanta transcendência teria no enfrentamento com Ario. Orígenes supõe uma ordem hierárquica dentro da Trindade, o que explica ter sido acusado de subordinacionismo.

No que se refere o aspecto mariológico podemos dizer que Orígenes chama mãe de Deus (Theotokos) a Maria, não diretamente, mas de forma indireta e melhor ainda seríamos dizer que ele é insistente na necessidade de acolher Maria como mãe de Deus a fim de compreender o Evangelho.


Sua teologia, influenciado pelo platonismo, o levou a cometer graves erros dogmáticos, especialmente na doutrina da pré-existencia da alma humana.  Um outro obstáculo de seu sistema foi a interpretação alegórica, pois com este método introduziu na exegese um subjetivismo perigoso, induzindo a arbitrariedade e o erro. Se ao longo de sua vida atraiu grande número de amigos, também e não menor o da inimigos.  Se de pois de sua morte as controvérsias se multiplicam, a causa se deve ao desaparecimento da maior parte de suas obras literárias.

A teologia de Origines é profundamente marcada por um espírito de contínua busca.  Profundo conhecer das Escrituras, seus escritos são sempre voltados a exegese sem enquadra-lo num sistema determinado, dando liberdade do leitor para uma interpretação mais espontânea.  Na elaboração de sua teologia procura profundar a tradição e propor  metas para a interpretação dando possíveis solução.  Pela interpretação alegórica dava ao Antigo Testamento uma explicação simbólica, prefigurando a Boa Nova aos seus eventos e personagens.  Os escritos vétero-testamentários, nada mais são do que a preparação para uma recepção consciente da revelação em sua plenitude.  Para uma interpretação mais autentica das Escrituras é indispensável dissociar o sentido literal, que representa o Corpo de Cristo, do sentido espiritual que é a alma nas Escrituras.

Para se passar do sentido literal ao sentido espiritual se faz mister a comparação de um texto escrituístico com outros da mesma Escritura, mesmo assim é impossível se chegar ao fim de uma interpretação em uma totalidade, pois a Escritura outra coisa não é senão a revelação do Cristo-Logos e este por sua vez se manifesta a cada homem de modo a ser aprendido um na mensagem.  Quando mais o homem se institui nas Sagradas Escrituras, tanto mais ele se aproxime da imagem e semelhança de Deus.

Se o homem perdera a imagem por causa do pecado, esta deve ser reencontrada e aperfeiçoada, passando de imagem a semelhança de Deus, tal desenvolvimento espiritual na vida terrena, mas viu na vida futura, na bem-aventurança celeste, onde não mais se encontramos os obstáculos do plano material e só então a participação do homem no Espírito Divino atingirá um cume, na plenitude.


1.4. TERTULIANO

Tertuliano, converso em 193, habitou Cartago. Em 270adotou uma postura favorável ao montanismo, chegando a ser chefe de um grupo extremista dentro deste movimento ao qual se denominou tertulianistas e que chegou até a época de Agostinho de Hipona.

É possível que a contribuição principal de Tertuliano à Teologia seja em relação à doutrina da Trindade. Ele foi o primeiro aplicar o termo "Trinitas" para as três pessoal e assim em De pud. XXI, fala da "Trindade de uma divindade, Pai, Filho e Espírito Santo". Expôs também a idéia de que o Filho era da mesma substância que o Pai, assim como "há uma só substância nos três que estão unidos entre si". Sua doutrina trinitária se adiantou, pois, em um século ao símbolo de Nicéia.

No seu período montanista - visão da Igreja-instituição - iria cedendo ante a visão de uma Igreja espiritual formada pelos homens espirituais, ambas estão em confronto e opostas.

Em suma, podemos matizar que Tertuliano acreditava no milenarismo e pensava que, pelo fim do mundo, os justos ressuscitaram para reinar com Cristo em Jerusalém por um período de mil anos.


1.5. CIRILO

Nasceu em Alexandria por volta de 403 tomou parte na destituição de João Crisóstomo no sínodo da Encina e sua aversão a este personagem se manteve até o ano de 417. A partir de 428, época em que Nestório fora consagrado bispo de Constantinopla, opôs-se ativamente a ele, contradizendo sua tese em uma missiva pascal;  neste combate, que logo levou ao das respectivas escolas da Alexandria e de Constantinopla, impulsionou Nestório e Cirilo a solicitar a interpretação do papa Celestino.

Um sínodo celebrado em Roma condenou Nestório uma vez que aprovava a teologia de Cirilo. Ante a postura áspera deste para com seu concorrente o imperador Teodósio II convocou um concílio em Éfeso em cuja primeira sessão Nestório foi deposto e excomungado.

No curso do mesmo se reconheceu também o título de mãe de Deus (Theotokos) aplicado a Maria, se bem que seu conteúdo se referia mais a categorias cristológicas que mariológicas.

Quatro dias mais tarde, a chegada de João de Antioquia provocou a convocação de um novo sínodo no qual se depôs  e excomungou Cirilo. Teodósio, tentando evitar um conflito, optou por declarar despostos Nestório e Cirilo e encarcerar a ambos. Posteriormente permitiu que Cirilo regressasse a sua sede enquanto Nestório partia para seu mosteiro de Antioquia.

No afã de perseguir o nestorianismo, Cirilo esteve na iminência de condenar a Teodoro de Mopsuétia, que havia sido mestre de Nestório, apesar de que se declarou, já em seu leito de morte, contrário a tal medida.

É atribuído a Cirilo a criação do método escolástico em teologia, aduzindo em defesa de seus argumentos não só o testemunho das Escrituras também o dos Padres. Certamente não fora o primeiro a utilizar este sistema, mas sim é verdade que o fez com uma profusão desconhecida até então. Como os arianos e os apolinaristas utilizou as provas derivadas da razão de manter sua tese. Sua cristologia inicial não foi senão uma cópia  da de Atanásio, no entanto, o enfrentamento com Nestório o levou a perfilar de maneira mais sutil sua terminologia, antecipando, anterior à Calcedônia, a dualidade das naturezas existentes em Cristo.


1.6. CIPRIANO

Cipriano converso por meio de Cecílio. Ao estourar a perseguição de Décio em 250 ocultou-se, atitude que não seria bem vista por todos. Pouco depois do martírio do papa Fabiano, viu-se compelido a enviar uma carta à igreja de Roma explicando o porquê de sua conduta e relatando os testemunho de outras pessoas que asseguravam que ele nunca havia abandonado seus deveres de pastor. Cipriano era contrário a recepção, a  reconciliação dos lapsi, que renegavam a fé,  tal fato provocou a oposição de um setor eclesial no qual se destacava Novato, que iria até a Roma para apoiar Novaciano contra o novo papa Cornélio. Cipriano  excomungou seus opositores escrevendo suas missivas "acerca dos erros e acerca da unidade da Igreja".

A principal contribuição teológica de Cipriano se dá em sua eclesiologia. "Salus extra Ecclesiam non est", eis a tese que ilustra comparando a Igreja com uma mãe, com a arca de Noé. Fundamento da unidade eclesial é a submissão  ao bispo que só responde diante de Deus. Do que está expresso em CSEL III, 1, 436, depreende-se que não reconhecia uma supremacia de jurisdição do bispo de Roma sobre seus colegas nem tampouco que Pedro houvera recebido poder sobre os demais apóstolos, daí a explicação sua oposição ao papa Estêvão na questão do batismo dos hereges.

Ao que se refere ao Batismo recusa o realizado pelos hereges e se mostrou de administrar o batismo de crianças o mais rápido possível. Martírio é um batismo superior ao de água.

Ao que se diz sobre a Penitência, Cipriano optou por uma postura que condenava o laxismo de seu clero e o rigorismo de Novaciano. Numa perspectiva atual, sua tese parece-nos  muito rígida, mas este aspecto deve situar-se dentro dos padrões de conduta da época.

Em relação à Eucaristia é autor do único escrito anterior a Nicéia consagrado exclusivamente a este tema. Seu ponto de vista é interessante porque incide especialmente no caráter sacrificial da Ceia do Senhor.


2. A ESCOLA DE ANTIOQUIA

A Escola de Antioquia, fundada por Luciano de Samosata, foi uma reação contrária aos excessos e fantasias do método alegórico origenista .

O ponto central de tal  escola era o próprio texto Sagrado, procurando induzir seus discípulos a uma interpretação literal, o estudo histórico e gramatical do mesmo.

Luciano de Samosata fundou a escola de Antioquia nos princípios do século IV . os teólogos antioquenos rejeitavam o método alegórico, próprio dos alexandrinos, que em sua opinião desvirtuava o reto sentido dos textos bíblicos, com o risco de os converter em pura mitologia. A escola de Antioquia cultivava a interpretação literal da Escritura e inspirava-se no realismo da filosofia aristotélica.

2.2. GREGÓRIO, O TAUMATURGO.

Gregório  nasceu de um família nobre em Neocesaréia do Porto.  Transferindo-se para Cesaréia por motivos familiares, ali entrou em contato com o cristianismo e se fez batizar sob a influência de Origines, de quem havia sido discípulo.  Na véspera de sua partida proferiu um discurso  acadêmico de despedida ao seu venerado mestre.  Discurso este que muito tem contribuído para os estudos sobre a pessoa de Origines.

Compôs um breve símbolo que, ainda que se ao dogma da trindade, é notável pela exatidão de seu conceitos.  Redige também um tratado sobre a possibilidade e a impassibilidade de Deus, onde trata incompatibilidade do sofrimento com a idéia de Deus.   Deus Não pode estar sujeito ao sofrimento.  Ele é livre em mas decisões.  Pelo seu sofrimento voluntário, o Filho de Deus derrotou a morte e provou a sua impassibilidade.


2.3. LUCIANO DE ANTIOQUIA

Homem excelente em todos os aspectos, segundo Eusébio, de vida moderada e versado nas ciências Sagradas.  Não foi um escritor profano.  Jerônimo fala de seu trabalho sobre a fé, sem dar nenhuma informação sobre o conteúdo.  Conhecia perfeitamente o hebraico e corrigia a versão grega do antigo testamento segundo o original hebraico.  Revisou também o texto de Novo Testamento.

Sua escola se opunha ao Alegorismos da escola Alexandrina.  Se dedicou a interpretação literal das Escrituras e com deu método exegético formou um grade número de escritos.  Percursor da doutrina a ser chamada de Arianismo.   Sacerdote da comunidade de Antioquia, esteve excomungado por longo período sob o pontificado de três bispos.  Ario  e os seus futuros partidários foram educados por Luciano em Antioquia, o que nos remete a um idéia de que teria sido um padre do arianismo .

3. OS CONCÍLIOS

Dentre os sete concílios da antigüidade cristã ainda hoje tidos como ecumênicos pela maioria das Igrejas, destacam-se pela autoridade doutrinária e importância histórica os quatro primeiros, de Nicéia a Calcedônia.

Não há dúvida que estes primeiros concílios ecumênicos são caracterizados por uma real continuidade histórica e sob este aspecto constituem uma unidade à parte.

A formulação do dogma trinitário foi a grande empresa teológica século IV, e a ortodoxia católica teve o Arianismo como adversário. O Arianismo entroncava em certas doutrinas antigas que acentuavam de modo exagerado e unilateral a unidade de Deus, a ponto de destruírem a distinção de Pessoas na Santíssima Trindade - Sabelisnismo - ou de subordinarem o Filho ao Pai, fazendo-o inferior a Este - Subordinacionismo. Um Subordinacionismo radical inspirava os ensinamentos do presbítero alexandrino Ario, o qual não só fazia o Filho inferior ao Pai, como negava inclusivamente a sua natureza divina. A unidade absoluta como a mais nobre das criaturas, Não Filho natural, mas filho adotivo de Deus ao qual de modo impróprio era lícito chamar também Deus.

A doutrina ariana revelava uma clara influência da filosofia helenística com a sai noção de Deus Supremo e um conceito do Verbo muito afim do demiurgo platônico, ser intermédio entre Deus  e o mundo, e artífice, ao mesmo tempo da criação. A relação existente entre Arianismo e filosofia grega explica a sua rápida difusão e o favorável acolhimento que encontrou entre os intelectuais racionalistas impregnados de helenismo. As seqüelas afetavam o dogma da Redenção que teria carecido de eficácia se o Verbo encarnado não fosse verdadeiro Deus. A Igreja de Alexandria apercebeu-se da transcendência do problema e, após tentar dissuadir Ario do seu erro, procedeu à sua condenação num sínodo de bispos do Egito. O Arianismo tinha-se convertido já num problema de dimensão universal que exigiu a convocação do primeiro concílio ecum6enico da História cristã.


Nicéia em 325 - devido as afirmações de Ario, segundo as quais Cristo foi "criado"-  definiu que o verbo encarnado é da mesma substância (homoousios, consubstancial) que o Pai, Deus nascido de Deus, ou seja, a divindade do verbo, empregando um termo que exprimia de modo inequívoco a sua relação com o Pai: consubstancial. O Símbolo niceno proclamava que o Filho, Jesus Cristo, "Deus de Deus, Luz da Luz, deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado"  é "consubstancial ao Pai".

Atanásio ainda era jovem se fez monge nos desertos do Egito.  Depois de feito diácono da igreja alexandrina, foi com seu bispo Alexandre ao concílio de Nicéia, onde se distinguiu pelo combate ao cristianismo. Atanásio é uma das grandes figura de bispo da história antiga. Talhado no granito, intransigente até a violência, é ele um bispo da Resistência.

Atanásio não foi um teólogo especulativo mas antes um pastor preocupado com a ameaça de paganização helenista que implicava a heresia de Ario.

Seu desejo é salvaguardar  a pureza da "tradição, doutrina e fé da Igreja católica que o Senhor deu, os apóstolos pregaram e os padres conservaram". Pai e Filho têm  a mesma natureza  e são eternos. Esta tese tem uma importância suprema para a redenção já que não poderíamos  ser salvos sem que Deus se fizesse homem. A partir deste  ponto pode-se considerar Maria como mãe de Deus. O Espírito Santo não pode  ser criatura formando parte da Trindade uma vez que é Deus também.

É mais também possível que a oposição ao arianismo que marcou toda a sua vida tenha  sido o que levou Atanásio a negar a validade do batismo ariano. A base de sua atitude não procedia do fato que os arianos não usaram a forma trinitária no batismo mas por acreditar que os mesmos conferiam uma fé distorcida e pode-se ver sua influência no cânon 19 do Concílio de Nicéia, onde se ordena que os paulianistas que desejam voltar à Igreja católica devem ser batizados de novo.  A postura de Atanásio sobre a Eucaristia não é totalmente clara.

O Cristianismo pregava que os logos era como uma criatura, subordinado ao Pai.  Combatendo tal heresia o Concílio de Nicéia  definiu que o filho que o filho de Deus é consubstancial ao Pai, o que significa que não é criado, mas compartilha a essência do Pai.

"Cremos em um só Deus Pai onipotente, criador de todas as cosias, visíveis e invisíveis; em um só Senhor Jesus Cristo Filho de Deus, unigênito, nascido do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstâncial ao Pai, por quem todas as coisa foram feitas, as do céu e as da terra, que por nós e por nossa salvação desceu do céu e se encarnou, se fez homem, padeceu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, donde a de vir a julgar os vivos e os mortos".


A vitória da ortodoxia em Nicéia foi seguida por um "pós-concílio" de sinal radicalmente oposto, que constitui um dos episódios mais surpreendentes da História cristã. Eusébio de Nicomédia influenciou muito na corte imperial e nos finais do reinado de Constantino pareceu que o arianismo ia prevalecer.


Desde meados do século IV, o Arianismo dividiu-se em três facções:

* os radicais "anomeus", que faziam finca-pé na dessemelhança do Filho relativamente ao Pai;

* os "homeus", que consideravam o Filho Homoios ao Pai;

* os chamados semiariano, os mais próximos da ortodoxia, para os quais o Filho era substancialmente semelhante ao Pai.


A obra teológica dos chamados "Padres  Capadócios" desenvolveu a doutrina nicena e atraiu muitos seguidores das tendências moderadas do Arianismo que em pouco tempo desapareceu do horizonte da Igreja Universal, para sobreviver apenas como a forma de Cristianismo professada pela maioria dos povos germânicos invasores do Império. A teologia trinitária foi completada no Concílio I de Constantinopla com a definição da divindade do Espírito santo, ante a heresia  que a negava: o Macedonismo. Deste modo, antes de finalizar o século IV, a doutrina católica da Santíssima Trindade ficou fixada no seu conjunto no Símbolo Niceno-Constantinopolitano. Um aspecto da teologia trinitária não estava declerado expressamente no Símbolo: as relações do Espírito Santo com o Filho. Este ponto daria lugar mais tarde à célebre questão do Filioque, destinada a converter-se em pomo de discórdia entre Oriente e Ocidente cristãos.


Portanto, Constantinopla em 381: esforça-se para pôr fim ao arianismo, reafirmando a divindade de Cristo, bem como a do Espírito Santo, contestada por Eunômio. Após a controvérsia sobre a divindade do Logos, os cristãos se voltaram para o Espírito Santo: houve quem professasse ver o Espírito Santo como mera criatura.  O arauto principal deste tese foi Macedôneo, bispo de Constatinopla; donde o nome de macedonismo.


Reunindo o concílio, ficou estabelecido que o Espírito Santo é Deus, da mesma substancia que o Pai e o Filho.  Consequentemente o símbolo Niceno foi  completado:


"Cremos no Espírito Santo, fonte da vida que procede do Pai, que é adorado e glorificado com o Pai e o Filho e que falou pelos profetas"


definida a doutrina da Santíssima Trindade, a teologia teve de encarar de modo imediato o Mistério de Cristo, não em relação com as outras Pessoas Divinas, mas em si mesmo. a questão fundamental era, em substância, esta: Cristo é perfeito Deus e perfeito homem; mas como se conjugaram nele a divindade e a humanidade? Perante esta pergunta as duas grande escolas teológicas do Oriente adotaram posições contrapostas. A escola alexandrina fez finca-pé na perfeita divindade de Cristo: a natureza divina penetrava de tal modo a humanidade - como o fogo o ferro incandescente - que se daria uma união interna, uma "mistura" de natureza. A escola de Antioquia insistia, pelo contrário, na perfeita humanidade de Cristo. A união das duas naturezas nele seria apenas externa ou moral: por isso, mais que encarnação haveria que falar de inabitação do Verbo que habitaria no homem Jesus como numa túnica ou numa tenda.


Éfeso em 431: nenhuma definição parece ter saído desse concílio. Em 433 um "ato de união" diz: "nós confessamos, portanto, nosso Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus, Deus perfeito, composto de uma alma racional, de um corpo, gerado do Pai antes dos séculos, segundo  a divindade, nascido nesses últimos dias da Virgem Maria".


O arianismo levou a Igreja a insistir na divindade de Cristo. A questão cristológica pôs-se abertamente quando o bispo Nestório de Constantinopla, da escola antioquena, pregou publicamente contra a Maternidade divina de Maria, à qual negou o título de Theotókos - mãe de Deus - atribuindo-lhe apenas o de Christotokos - mãe de Cristo. Produziram-se tumultos populares e o patriarca de Alexandria, São Cirilo denunciou a Roma a doutrina nestoriana. O papa Celestino I pediu a Nestório uma retratação, que este se recusou a fazer. O concílio de Éfeso, reunido nessa altura pelo imperador Teodósio II foi muito acidentado, devido à rivalidade entre bispos alexandrinos e antioquenos. Mas houve acordo e compôs-se uma profissão de fé na qual se formulava a doutrina da "união hipostática" das duas naturezas em Cristo e se designava Maria com o título de Mãe de Deus. Nestório foi deposto e desterrado; grupos de partidários seus subsistiram, contudo, no Próximo Oriente e formaram uma Igreja Nestoriana que durante muitos séculos desenvolveu uma importante obra missionária por terras da Ásia.

O patriacado de Alexandria tinha alcançado crescente poder na primeira metade do século V e vários dos seus bispos intervieram ativamente em assuntos internos da Igreja de Constantinopla. Aconteceu que após a morte de São Cirilo as tendências extremistas se impuseram em Alexandria. A doutrina de Éfeso das duas naturezas na única pessoa de Cristo não pareceu satisfatória aos teólogos alexandrinos, por entenderem que duas naturezas eqüivalia a duas pessoas; e afirmaram que em Cristo não haveria mais do que uma natureza, posto que na Encarnação a natureza humana tinha sido absorvida pela divina. Esta doutrina - Monofisismo - foi anunciada em Constantinopla arquimandria Eutiques, que foi privado do seu ofício pelo patriarca Flaviano. Interveio então o patriarca de Alexandria, Dióscoro, que conseguiu o apoio do imperador Teodósio II. Um concílio reunido em Ésfeso (449) na presidência de Dióscoro, celebrou-se sob o sinal de violência. O patriarca de Constantinopla foi deposto e desterrado; impediu-se a leitura da epístola dogmática do Papa dirigida a Flaviano, de que eram portadores os legados pontifícios e condenou-se a doutrina das duas naturezas em Cristo. O papa Leão Magno batizou essa assembléia com um apelativo que passou à História: "latrocínio de Éfeso".

Assim que os imperadores Pulquéria e Marciano sucederam a Teodósio II, o papa Leão pediu a reunião de um novo sínodo ecumênico: foi o de Calcedônia em 451 que reage  contra o monofisismo, que é uma só natureza em Cristo, e afirma "um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito em sua divindade, perfeito em sua humanidade, verdadeiro Deus, verdadeiro homem". O concílio aderiu de modo unânime à doutrina cristológica contida na epístola de Leão magno a Flaviano: "Pedro falou pela boca de Leão", aclamaram os padres. A profissão de fé que se redigiu reconhecia as duas naturezas em Cristo, "sem que haja confusão, nem divisão, nem separação entre elas. Mas o Monofisismo, longe de desaparecer, lançou raízes profundas em várias regiões do oriente, em particular no Egito. A condenação do Monofisismo foi entendida como um ataque à sua Igreja e as tradições de Atanásio e Cirilo. Um Patriarcado monofisita surgiu em Alexandria, contra o Patriarcado "melquita" ou imperial.

Constantinopla em 453:  condena  os erros atribuídos a Orígenes e a três teólogos - Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro e Ibas. O papa Leão I homologou a condenação dos erros, e não das pessoas. O concílio visava principalmente o nestorianismo. Este contexto histórico explica os esforços dos imperadores seguintes por encontrarem fórmulas de compromisso que, sem contradizerem o Símbolo de Calcedônia pudessem ser aceitáveis pelos monofisitas e assegurassem a fidelidade destas populações ao Império.


C O N C L U S Ã O

As escolas de Alexandria e de Antioquia estavam destinadas a imprimir a sua marca característica nas grandes questões teológicas que iam levantar-se a partir do momento em que o Cristianismo e a Igreja conseguiram viver em liberdade.

Um pequeno texto de José Orlandis, historiador, resumiria estas duas escolas teológicas e o peso que ambas possuem na História da Igreja e no alicerce da Fé, a saber:

"Se tivessem de indicar uma pátria de origem dessa ciência, decidir-nos-iamos sem vacilar por Alexandria. Nesta cidade cosmopolita, foco da cultura helenítica, surgiu a célebre escola teológica que, nos princípios do século III, conseguiu um extraordinário auge sob a direção de Clemente, um converso, cuja vasta cultura lhe permitiu dar uma sólida contextura científica à exposição da doutrina da fé. O ambiente intelectual da metrópole egípcia imprimiu os seus traços a essa escola cristã: preferência pela filosofia platônica e emprego do método alegórico na exegese bíblica, em busca do sentido espiritual mais profundo da Sagrada Escritura. Estas notas distinguiram sempre os teólogos alexandrinos.

Orígenes, sucessor de Clemente de Alexandria na direção da escola, elevou-a a uma altíssimo grau de esplendor. Foi uma personalidade extraordinária: confessor da fé, escritor fecundíssimo, a fama de sua sabedoria estendeu-se por todo o Império e a própria mãe do imperador Alexandre Severo quis escutar os seus ensinamentos. Em Alexandria, primeiro, e em Cesaréia da Palestina, depois, desenvolveu uma atividade assombrosa. Através de São Jerônimo conhecemos os títulos de oitocentos das mil obras que compôs. A sua empresa mais ambiciosa, realizada ao longo de toda a sua vida, foram as "Hexaplas", sêxtupla da Sagrada Escritura, que visava estabelecer uma texto crítico do Antigo Testamento.

Frente a escola alexandrina, Luciano de Samosata fundou, nos princípios do séc. IV, a escola de Antioquia, que teve a sede nesta outra grande urbe do Oriente. Os teólogos antioquenos rejeitavam, sobretudo, o método alegórico, próprio dos alexandrinos, que em sua opinião desvirtuava o reto sentido dos textos bíblicos, com o risco de os converter em pura mitologia."

Deveras, vimos muito rapidamente um pouco dos Padres de ambas as escolas e na terceira parte a sua marca, as suas sementes teológicas que proporcionaram aos padres conciliares, principalmente destes quatro primeiros a base da nossa fé em um Deus Uno e Trino. O fato que devemos matizar no presente trabalho é que no conjunto apesar das heresias, das perseguições, dos conflitos, a Igreja fortalece suas estruturas e consolida sua doutrinas e suas práticas, tanto no plano religioso, como no plano social. Antes, no plano das relações sociais, propõe mudanças profundas no império sem revoluções acentuadas quanto a estrutura. Sabemos, porém, que com a morte de Constantino e a sucessão de Teodósio temos marcas na história de conflitos internos, de caráter dogmático inclusive, como podemos observar pelo presente trabalho. O que, enfim, deve ficar nítido é que o pensamento tanto de Alexandria, como de Antioquia oscilavam neste quadro, inclusive com algumas heresias. No entanto, são a partir deste interrogar que nasce algumas respostas que constituem o nosso alicerce na fé, a nossa segurança e compreensão na própria doutrina.

 

Bibliografia

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PACOMIO, Luciano. Dizionario  Teologico   Interdisciplinare.  Torino, Maritti, 1977.

 


QUASTEAU, Patrologia I, p. 305-6.

Ibidem, p. 306-7.

Cf. FIGUEIREDO, Curso de Patrologia II, p. 78-87.

Cf. QUASTEU, p. 334-8


Cf. FIGUEREDO, P. 88-112.

Adv. Marc III, 24.

Cf. QUASTEN, p. 415.

Cf. Ibidem, p. 415-16.

Ibidem, p. 417-421.

Ibidem. P. 433-34.

Cf. C. F. GOMES, Antologia dos Santos Padres, p. 202.

BETTENCOURT, Curso de História da Igreja, p. 225.

Semelhante.

Cf. Ibidem, Éfeso - Mater Eclesiae, p. 225; Calcedônia - Mater Eclesiae, p. 226

Que tinha atrás de si os monges e a população indígenacopta.