Eu já era um católico participante, mas me incomodava um pouco o trabalho da Pastoral do Dízimo. Achava que esse negócio de pedir para as pessoas contribuírem não pegava muito bem na Igreja. Para falar a verdade, eu ficava irritado quando recebia uma mensagem do pessoal da Pastoral do Dízimo e tinha mesmo vontade dizer frontalmente que não era a fim de ser dizimista. Só não expressava isso pela conveniência da boa educação e urbanidade. Mas a presença atuante dos membros daquela pastoral sempre me inquietou de alguma forma.

De todos os modos eu procurava apaziguar a minha consciência e buscava argumentos para me justificar interiormente pela rejeição que me despertava a idéia de me tornar dizimista. Mas o problema de consciência não me dava tréguas porque eu não encontrava nenhum argumento sólido em defesa da minha posição anti-dizimista. Eu chegava a afirmar para mim mesmo que Dízimo era coisa de crente, que a igreja era uma instituição riquíssima e não precisava de dinheiro de ninguém, que eu ia tirar do meu bolso para o padre gastar à toa... Enfim, desculpas esfarrapadas de quem não queria se comprometer.

Quando fui adentrando mais na profundidade da vida comunitária, fui percebendo que a maioria pensava como eu e só uns poucos efetivamente contribuíam generosamente para a sustentação da evangelização que é a obra essencial de qualquer comunidade paroquial católica. Percebi que todos os projetos comunitários acabavam dependendo de eventos não muito apropriados para angariar recursos destinados - em síntese - à evangelização. É inusitado pensar que para chegar a esse fim evangelizador se lançasse mão de meios tão inadequados como bingos, rifas, chás beneficentes, quermesses - eventos talvez até saudáveis para o lazer e a boa convivência - mas jamais para serem as inevitáveis fontes de recursos para a evangelização. Diante dessa realidade que me incomodava - e incomodava muito mais que a idéia do dízimo em si, passei a refletir melhor sobre o papel do cristão católico como agente co-responsável pela sua comunidade de fé.

A visita, a pregação e a animação conscientizadora de um missionário da Pastoral do Dízimo, por aquela época, trouxe-me o que faltava, se é que ainda faltava algo, para convencer-me de que o Dízimo e as Ofertas eram realmente os meios adequados para gerar os recursos necessários ao exercício essencial da missão eclesial que é também missão de todo batizado: evangelizar!

Assim conscientizado, foi com imensa alegria que assumi o compromisso dizimista, o qual ajudou a descortinar em mim um horizonte novo de fé e participação. Apesar dessa convicção plena com a qual assumo o dízimo em minha vida, ainda me incomoda uma argumentação bastante presente na igreja - aquela que utiliza a promessa de prosperidade como arma de convencimento para conquistar a adesão de dizimistas. Essa argumentação é chamada por muitos, em tom jocoso, de "teologia da prosperidade" e flui com desenvoltura nos meios evangélicos pentecostais, tendo conseguido, infelizmente, se infiltrar também nos meios católicos. Podia se chamar também de "teologia do toma-lá-dá-cá". Não vejo como um cristão consciente possa ter uma visão assim tão distorcida dos dons de Deus, da religião e do dízimo, propriamente. Ao menos para mim jamais conseguirei enxergar dessa forma, não ao menos no sentido que a sociedade utiliza o termo "prosperidade"... Afinal, prosperar é normalmente entendido como "enriquecer", e o Dízimo não tem nada a ver com o enriquecimento. Embora a riqueza não seja necessariamente um mal em si mesma, enriquecer não é um objetivo cristão - jamais deveria ser! Ao contrário, se concretizado o sonho da partilha ideal, eliminar-se-iam igualmente a pobreza e a riqueza exageradas. Sabemos que para que alguém enriqueça é necessário que do outro lado alguém empobreça. As ciências econômicas ensinam que os bens são escassos e quando se acumulam nas mãos de alguns, se esvaem das mãos de outros.

Então, se o Dízimo trata de prosperidade, eu compreendo que é aquela prosperidade que representa desenvolvimento, crescimento, maturidade - riquezas da alma humana e fartura do conhecimento, da experiência de fé, do compromisso na caminhada fraterna e eclesial e também do equilibrado e moderado uso dos bens materiais - sem opulências, sem ostentações, com modéstia, com despojamento, com prodigalidade para com os mais necessitados, sem escândalo. Aí sim se pode tranquilamente aplicar o termo "prosperidade" porque, de fato, tornar-se dizimista é um passo concreto - um avanço considerável - um progresso para alguém que adere à fé e, de forma adulta e madura, assume compromissos para viabilizar a evangelização, o que implica também na contribuição efetiva com os recursos necessários. E não apenas os recursos financeiros, mas o dizimista oferta também do seu tempo e talentos - partilhando-os na comunidade.

Ser dizimista é, portanto, ser um batizado capaz de comprometer-se em todas as instâncias: na ousadia da fé que liberta, na vida de oração que gera comunhão, no convívio eclesial e social fraterno, na generosa partilha da vida e dos dons que a sustentam. O Dízimo não é a causa que leva alguém a se tornar um autêntico cristão, mas é a consequência natural de um autêntico cristianismo. Ser Dizimista, pois, a meu ver, é ser um cristão católico fiel, autêntico, maduro.

 

Paz e Benção

Diácono Claudino