Uma pastoral para os "empedernidos"

 

A Igreja é mãe que ama ardorosamente seus filhos. Deus também nos ama, independentemente de nos encontrarmos ou não em estado de graça. Assim, o amor de Deus pelos pecadores é um dogma de fé. A solicitude da Igreja em prol dos  empedernidos ou recalcitrantes no pecado mortal deve refletir a ternura e o enlevo de Jesus Cristo. Não se há de abandonar quem caminha nas trevas do egoísmo e do desamor, pois é sempre possível a conversão.

O problema de uma pastoral específica para os empedernidos se apresenta à medida que existem irmãos que não conseguem ou não podem recorrer ao sacramento da penitência. Pensemos, por exemplo, num assaltante. Antes de tudo, pergunto: será que Deus ama mais o papa que o infrator em apreço? Cuido que Deus ama igualmente, com a mesma intensidade infinita, tanto o sucessor de são Pedro quanto o aludido "criminoso".  Desafortunadamente, o assaltante em questão, muita vez, não é capaz de se livrar da trama de delitos,  já  por se sentir ameaçado, já em virtude de carência de oportunidades honestas, entre tantos outros motivos reais. Figuremos, também, a condição de uma prostituta. Sabemos que a famigerada "vida fácil" é, na verdade, muito difícil. Quantas humilhações e violências não sofrem essas mulheres! Abandonar essa "profissão" é, a cotio, impossível para quem está atrelado a ela por todo tipo de vínculo, inclusive sob o domínio constante de um rufião.

Jesus optou pela ovelha tresmalhada. A Igreja, autêntica discípula de Jesus, deve fazer a mesma coisa. Os ditos empedernidos não veem mais nenhuma alternativa ao seu modo de viver. De certa forma, acostumaram-se com o vezo e com o pecado. Endureceram o coração. No entanto, muitos desses seres humanos, queridos como nós, foram batizados, fizeram a primeira comunhão, ainda rezam, entram numa igreja de quando em quando, acendem uma vela etc.

Uma pastoral votada a essas pessoas seria como uma companhia constante; um amigo que diz: coragem, um dia virá a libertação! Não perca a esperança! Não concordo com seus erros, mas gosto de você! Esse carinho tem de ser institucionalizado numa pastoral específica. Com efeito, as paróquias e os cristãos de um modo geral, máxime os leigos, no dia a dia, precisam ir ao encontro desses irmãos, acolhendo-os sem juízo de valor ou acepção alguma e, principalmente, sem cobrança, pelo menos a curto e médio prazos. A tarefa não é simples, porém, na minha opinião, extremamente relevante e consequente com o evangelho de Jesus Cristo.

 

Edson Luiz Sampel

Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma.