E tão proveitoso e útil, e tão entusiasmado o apostólico, que várias Dioceses do Brasil e o foram felizmente celebrando este mês dedicado a Bíblia. Vemos, pois, passar mais uma vez o Mês da Bíblia, e cartazes e slogans atinentes a Sagrada Escritura se compuseram sugerindo um estudo especial sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos que narram os triunfos da Igreja de Cristo nos seus primórdios, em meio de angústias e sofrimentos que são o "Caminho a Cruz", rumo à glória da Ressurreição do senhor Jesus.

Inspirada por Deus, a Bíblia reporta desde o Antigo Testamento até o Novo Testamento a mensagem da salvação.

Textos tão antigos, como os do antigo Testamento, remontando a alguns milhares de anos, eles nos mostram o caminho real da salvação eterna. Virtudes excelentes aponta-nos a Bíblia, para nosso modelo, e não faltam pecados em desmandos da fragilidade humana a nos abrirem os olhos para neles não cairmos também nós. As vezes, a linguagem; tecida de imagens metafóricas e de poesias, tão do gosto oriental, e dados históricos de eventos, não são de fácil intelecção., para a mentalidade hodierna. Faz-se, pois necessários aturado estudo para melhor apreender a mensagem de Deus.

E os quatro Evangelhos de São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João - estes são para nós cristãos a pérola mais preciosa de toda a Sagrada Bíblia. E os livros dos Atos dos Apóstolos, das Epístolas de São Paulo, São Tiago, São Pedro. São João São Judas Tadeu e, por fim o Apocalipse, que riqueza de espiritualidade!

Exigem profundos estudos para adequada assimilação de certos textos de São Paulo, e especialmente o Apocalipse.

Ainda que vivêssemos centenas de anos, ainda assim teríamos que aprender muito da Sagrada Bíblia. É de inspiração divina a Sagrada Escritura: os autores inspirados ou os hagiógrafos afirmam que tudo nela deve ser tudo como afirmado pelo Espírito Santo, que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, em vista da nossa salvação, quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras (cf. Vaticano II Constituição Dogmática "Dei Verbum" n. 11).

Fundamental é esta orientação eclesial: "Como a Sagrada Escritura deve ser também lida e interpretada naquele mesmo Espírito em que foi escrita para aprender com exatidão o sentido dos textos sagrados, deve se sentir com não menor diligência ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, levada em conta a TRADIÇÃO viva da Igreja toda e a analogia da fé" (Ibidem, n. 12) Firma solenemente o Vaticano II. a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão entre si estreitamente unidas e comunicantes. Pois, promanam ambas da mesma fonte divina... A Sagrada Escritura é palavra de Deus enquanto é redigida sob a moção do espírito Santo; a Sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito santo aos Apóstolos..." (Ibid. n. 9).

"A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só e sagrado depósito da palavra de Deus confiado a Igreja" (n. 10).

Há mais de cem anos, interrogava o cardeal inglês John Henry Newman: Onde a legitimidade do uso de armas ou a obrigação do culto público, ou a substituição do domingo ao sábado, ou o batismo dos inocentes, para nada dizer do princípio fundamental que a Bíblia e só a Bíblia constitui a Religião? Bem mais, em que lugar das Escrituras está resolvida a questão do Cânon dos Livros Sagrados? Questão básica, entretanto, para quem nada admite fora da bíblia. Ora, aí está a História a nos informar que, além dos nossos quatro Evangelhos canônicos, havia dezenas de outros que existia uma série de apocalipse fora do de São João que circulavam Atos e epístolas de diversos apóstolos, etc. Por que considerar uns autênticos, os outros apócrifos?

Porque, respondem, estes são inspirados e aqueles não mais como o sabeis? Apenas com a letra da Bíblia nunca resolvereis esse problema, vital para vós. É imprescindível apelar para a autoridade infalível da Igreja (Essay ou the development of christian doctrine, p. 69 seg. apud "O CARDEAL NEWMAN" do saudoso cultíssimo teólogo brasileiro Padre Dr. Maurílio Teixeira Leite Penido. Petrópolis, Vozes, 1946, 1 c, p. 85).

Guia-nos ainda o Pe. Penido frisando pensamentos de Newman com referência à Bíblia: Surgem outros enigmas: será a Escritura um documento que se interpreta a si mesmo, ou não carecerá um intérprete? Ainda: além do que recordam as Escrituras nada mais foi revelado? Essas e muitas questões que os livros sagrados não resolvem explicitamente, os protestantes resolvem-nos deduzindo, arquitetando teorias, logo desenvolvendo a doutrina bíblica.... Não basta, pois, mostrar que o Catolicismo do século presente é o cristianismo antigo mais evoluído, cumpre ainda tornar patente que o Catolicismo atual representa uma evolução homogênea: mudou, porém conservando-se o mesmo: é sempre novo e sempre antigo.

Newman distingue o discernimento efetuado por um indivíduo isolado que, de fora, contempla, qual espectador, a História da Igreja já realizada; e o discernimento social, efetuando pela própria Igreja no decurso da evolução. Com referência a este segundo discernimento, doutrina o Cardeal Newman, quer ele uma autoridade infalível. De nada adiantaria ter-nos Deus dado a Revelação, não a houvesse ele protegido contra a corrupção no seu espontâneo e inevitável desenvolver-se. Para tal, investiu a Igreja com um poder infalível que lhe faculta discriminar, sem erro possível se tal desenvolvimento particular é progresso ou a berração. Abandonar tal função autentificadora ao senso próprio de cada cristão é abrir a porta à mais absoluta anarquia doutrinal, o que tornaria supérflua a própria Revelação (Essay on the development of christian doctrine, p. 75).

"A resposta do Etíope, quando São Filipe lhe perguntou se entendia o que ele estava a ler, é a mesma voz da natureza: como o poderei compreender, se não houver alguém que mo explique? Pois a Igreja já desempenha esse ofício; ela faz o que ninguém pode fazer e tal é o segredo do seu poder" (ibid. p. 88). A divina autoridade do catolicismo está inclusa na mesma divindade do Cristianismo, frisa Newman.

Diz o Cardeal Newman que o cânon do Novo Testamento, o pecado original, o batismo das crianças, a comunhão sob uma só espécie, o homoousios, a dignidade de Maria e dos Santos, o primado do papa constituem um conhecimento mais vivo duma verdade do patrimônio primitivo, um a profundar de suas conseqüências, um desabrochar de suas virtualidades.

A semente não é a árvore nem o embrião é o adulto conquanto a árvore venha da semente e o adulto do embrião. Pois, na tradição primitiva a doutrina não podia estar toda desenvolvida (Ibd p. 127).

A Igreja é dinâmica por ser uma instituição viva. Ela cresce, floresce e frutifica vivendo cada tempo, guiando, iluminando com a luz do espírito Santo que lhe não falta desde a sua aurora, nem lhe faltará jamais, conforme assegurou o Divino Redentor "E eis que eu estou convosco todos os dia até a consumação dos séculos"! (Mt 28, 20).

Que bom não fará a cada cristão a leitura meditativa piedosa, cada dia, de algum texto bíblico! Aconselhando a começar pela leitura dos evangelhos, que eles mesmos já ajudarão a compreender mais o Antigo Testamento.

Tirar cada qual conclusão doutrinária da leitura de textos escriturísticos difíceis é expor-se a erros. Atualmente se contam cerca de quinhentas diferentes denominações cristãs ou seitas protestantes todas elas falando de Cristo todas elas citando a Bíblia mas construindo "novidades" por lhes faltar o princípio de unidade, sem atenção para com o Magistério da Igreja, que Cristo fundou juntamente com a mesma Igreja: Una Santa, católica, Apostólica.

Sim "toda Escritura divinamente inspirada é também útil para ensinar, para argüir para corrigir, para instruir na justiça: a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda obra boa' (2Tm 3, 16-17, texto grego).