No Brasil a maioria do povo fiel, em milhares de comunidades, que não contam com ordinariamente com o presbítero, através da Palavra celebram o mistério de Cristo em suas vidas. E sendo a Palavra de per si, depois dos sacramentos, o modo mais importante de celebrar, temos mais um motivo para refletir sobre esta forma de celebração, como o vem fazendo, aliás, a própria Sé Apostólica em nível universal.

A partir do dia de Pentecostes a Igreja não mais deixou de reunir-se em assembléia, no Dia do Senhor, para celebrar o mistério pascal de Jesus pela proclamação da Palavra e a Fração do Pão. A Celebração Eucarística, portanto, é a celebração mais plena e mais apropriada do dia do Senhor.

O surgimento rápido de inúmeras comunidades eclesiais, ultrapassando a capacidade de atendimento dos presbíteros, leva o Povo de Deus a reencontrar no tesouro da tradição litúrgica da Igreja a celebração da Palavra para alimento de sua fé, de sua comunhão e de seu compromisso.

Nesta celebração da Palavra, o Cristo se faz verdadeiramente presente, pois é ele mesmo que fala quando se lêem, na Igreja, as Sagradas Escrituras. Além de sua presença na Eucaristia, eventualmente distribuída, está também, na assembléia, pois prometeu estar entre os seus que se reúnem em seu nome (cf. Mt 18,20).

É nesta celebração que muitas de nossas comunidades encontram o alimento de sua vida cristã. Formadas por gente simples, em luta pela sobrevivência e mais abertas à solidariedade, estas comunidades espontaneamente unem a escritura à vida e, criativamente, integram preciosos elementos da religiosidade popular.

Contudo, não confundimos nunca estas celebrações com a Eucaristia. Missa é Missa. Celebração da Palavra, mesmo com a distribuição da Comunhão, não deve levar o povo a pensar que se trata do Sacrifício da Missa. É errado por exemplo, apresentar as oferendas, proclamar a Oração Eucarística, rezar o Cordeiro de Deus e dar a bênção própria dos ministros ordenados.

A Celebração da Palavra tem seus próprios valores nos vários elementos que a integram:

- reunião dos fiéis para manifestar a Igreja;

- proclamação e atualização da Palavra que a faz transformadora;

- preces, hinos, cantos de louvor e agradecimento, que são a resposta orante dos fiéis;

- saudação da paz, ofertas de bens e, quando houver, Comunhão eucarística que, a um tempo, expressam a solidariedade eclesial e o compromisso de transformar o mundo.

A coordenação desses elementos exige um serviço de presidência. Os diáconos são os primeiros encarregados de dirigir esta celebração. Entretanto, quando não houver diácono ou ministro instituído, todo cristão leigo, homem e mulher, por força de seu Batismo e Confirmação, assume legitimamente este serviço. Recomenda-se que os encarregados desta atividade sejam apresentados à comunidade em celebrações especial para tornar mais evidente a comunhão eclesial. Seja feita esta designação por um período determinado de tempo.

Assim presidida, a celebração se desenvolve num ritmo, que exprime bem o diálogo entre Deus e a assembléia:

- Na Liturgia da Palavra, proclamada e explicada, o Senhor fala da salvação ao seu povo, que responde professando a fé, pedindo perdão, suplicando, louvando e bendizendo.

- A ação de graças é um ponto alto, porque a grande resposta ao Deus que se faz Salvador é o homem e a mulher agradecendo. Por ela se louva e se bendiz a Deus por seu grande amor. Um hino, um canto, uma oração litânica podem exprimi-la após a Oração dos fiéis, da Comunhão ou final da celebração.

- Pela comunhão eucarística, a assembléia exprime e realiza aí íntima união com Cristo e com a Igreja.

- Pelos Ritos de conclusão os fiéis, que tomaram consciência de que são enviados, assumem o compromisso da sua missão a serviço do Reino na vida concreta.

Finalmente, não podemos esquecer que a celebração da Palavra tem uma ampla dimensão educativa, levando o povo à sadia criatividade, à valorização dos ministérios, ao compromisso com o Reino e ao amor à Eucaristia, como expressão da plena comunhão eclesial.