Nesta semana, de 19 a 23 de julho, ocorre, em Ipatinga, o XI Encontro das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. O tema do Encontro: "Comunidades Eclesiais, uma espiritualidade libertadora" e o lema: "Seguir a Jesus no compromisso com os excluídos".

Desde a descida do Espírito Santo, os discípulos de Jesus tomaram consciência de que formavam uma comunidade de fé no Redentor e da expansão missionária da sua mensagem.

Fortificados na experiência comunitária, que os Atos dos Apóstolos nos descrevem com simplicidade: "assíduos no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão"(Cf. At 2,42), eram "um só corpo e uma só alma"(Cf. At 4,32). Sua dimensão missionária é atestada pela multiplicação dos fiéis que assombrou o Império Romano pelo seu número e sobretudo pela coragem de dar a vida pelo Evangelho.

No decorrer dos séculos, esse ideal cristão assume diversas formas de manifestação de acordo com as circunstâncias históricas e culturais. Por muitos séculos, aquelas comunidades incipientes se transformaram numa grande Instituição sem perder aquele espírito de caridade que os unia e sem perder o élan missionário, uma Igreja que reuniu nações e línguas num só povo no louvor do Senhor, na procura da convivência no amor e na proclamação de uma só fé e um só batismo, "apesar dos nossos pecados', como humildemente rezava São José Escrivã diante do túmulo de São Pedro.

A mudança sócio-cultural ocorrida no último século pôs em cheque a Cristandade. Era necessário espancar a poeira do pecado e das vaidades do mundo que se assentara nos pilares de Pedro e atualizar a ação da Igreja para refletir a vitalidade perene do Evangelho. O Concílio Ecumênico Vaticano II foi o novo Pentecostes que a misericórdia divina derramou sobre a face da terra.

Numa leitura atualizada do plano redentor, inseriu no coração de todos o anseio da libertação. No mundo dominado pelo egoísmo e pela luxúria, pela soberba da vida, a Igreja apresenta-se como agente da redenção contra toda forma de opressão. Posta-se firme na defesa  do homem e dos valores eternos. Belo o testemunho da Senadora Alagoana Heloisa Helena contando sua vida de coragem e de luta, que aprendera com os padres e irmãs holandesas  na leitura e reflexão da Bíblia.

As CEBs são Igreja, como são Igreja as demais formas tradicionais da vivência de fé. Todos formamos uma só comunidade na comunhão fraterna, assíduos na oração e na reflexão da doutrina dos apóstolos, na eucaristia, caminhando cada dia no processo de conversão.

Cremos num mundo novo, humano, não utópico como um socialismo ou como uma distribuição da riqueza para diminuir os pobres. A nossa fé é mais profunda. O eixo da nossa vida tem de mudar para mudar a face do mundo. É necessária uma conversão ao Evangelho que nos ensina não só a amar ao próximo como a nós mesmos, mas a amá-lo como Cristo nos amou. Sair de nós e ir ao encontro do irmão.

O tema deste Encontro é a libertação que só a vivência evangélica é capaz de nos dar.  Jesus, na sinagoga de Nazaré, ao iniciar sua missão, atribui a si a profecia de Isaias. Ele vinha para evangelizar os pobres, sarar os de coração contrito e anunciar o ano da graça.(Cf. Lc 4, 16). No Sermão da Montanha, ensina  as multidões a lei do amor pela libertação das peias dos apegos e de tudo que prende  o nosso coração. Só o Evangelho nos liberta e nos faz dar as mãos, não como oprimidos, mas como irmãos que constroem juntos o Reino de Deus.

O mundo está infestado de erros e de ódio. Mas, estamos no mundo e o mesmo Jesus, na última ceia,  rezou ao Pai por nós: "não peço que os tire do mundo, mas que os livre do maligno" (Cf. Jo. 17). Por que?  Porque devemos dar  testemunho de fé e, dia após dia, irmos conquistando corações. "Seguir Jesus no compromisso com os excluídos" proclamar a mensagem de libertação a todos os povos, para  que,  em breve, na nova terra e no novo céu,   possamos esperançosos dizer "Vem Senhor Jesus"( Cf. Apoc.20).

 

 

DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO

Arcebispo Emérito Metropolitano de Juiz de Fora, MG.