Nunca uma mulher teve tanto prazer na vida quanto Herodíades, a mulher de Herodes, quando o garçom entrou com a cabeça de João Batista numa bandeja e colocou-a sobre a mesa, bem à frente dela. A música ecoava pelas altas paredes e colunas do salão de festas e os dançarinos bailavam graciosamente. O delicioso vinho de Roma enchia as jarras dos tribunos e a alegria contagiava o coração dos nobres. Todos viram a cabeça de João entrar solenemente na sala elevada como um troféu, com o sangue ainda borbulhando, naquela bandeja de prata. De fato, era o troféu dado por Herodes no dia do seu aniversário à sua enteada por ela ter deliciado os seus convidados com belíssima apresentação de balé. A garota foi tão aplaudida e ele ficou tão envaidecido que prometeu solenemente: "Pede-me o que quiseres e eu te darei, mesmo que seja a metade o meu reino". A garota, de 15 anos, ficou perplexa e perguntou à sua mãe, que sentenciou: "Pedes a cabeça de João Batista". Foi assim que a cabeça de João entrou na festa. Mas por que Herodíades trocou a metade do reino de Herodes pela cabeça de João? Porque João denunciou publicamente que ela vivia em pecado por ter deixado o marido para viver como amante do rei. Não existe nada mais perigoso do que a vaidade de uma mulher poderosa. Foi para dizer que os seres humanos foram destinados pelo Criador para dar continuidade ao processo criativo, transformando a sua natureza selvagem e perversa, em alma bondosa e divina, que João Batista nasceu.

João Batista foi especialmente concebido por obra do Espírito Santo no seio de Isabel, esposa idosa e estéril, do sacerdote Zacarias, do templo de Jerusalém. Desde a adolescência viveu vida eremítica nas montanhas da Judéia, em total consagração à Deus. Não namorou, não casou nem teve filhos. Foi celibatário e viveu vida casta por toda a vida. Além disso, foi totalmente pobre. Nunca possuiu qualquer bem. Vestia-se com pêlos de camelo e alimentava-se do que a natureza lhe proporcionava. Por essa disciplina e ascese, João Batista era considerado um grande santo pelos moradores da região. Por isso, tinha autoridade para denunciar os desvios de conduta de uma sociedade moralmente decadente, apegada aos prazeres da carne e escrava dos bens materiais. Mas ele não foi crítico desses males só porque optou pela vida religiosa, mas porque foi o último dos profetas, especialmente enviado por Deus para preparar os ouvidos das pessoas para ouvirem a boa nova de Jesus.  João Batista é a ponte que separa e une o velho e o novo. Que transforma a sociedade dividida entre homens superiores e inferiores, em uma sociedade em que todos são iguais em Cristo. Ele demonstrou que o homem não é só carne e matéria, mas virtude e espírito. João é modelo para todos os cristãos, mas especialmente para padres, pastores e ministros, de que a autoridade religiosa reside na consagração, longe do poder e do dinheiro.

Paulo Pinto é pároco de NS de Lourdes.