No século 21 as igrejas deverão fundamentar em outros princípios sua ajuda aos pobres. Não vivemos mais em monarquias, nem as igrejas detêm o poder temporal como outrora. O regime democrático exige uma metodologia inovadora que se harmonize com os objetivos de uma sociedade cristã, sob o império da justiça, como Cristo pregou. Tal postura exige conversão, abandono das idéias antigas. Cristo inovou em tudo: deu nova interpretação à lei e revolucionou as relações sociais construindo o homem novo. Mas, se por um lado é difícil mudar valores religiosos; por outro, o saber religioso sedimentado ao longo de séculos de história deve ser emprestado ao homem comum; excluído da formação acadêmica. As igrejas devem debater os temas de interesse da sociedade e dizer o direito que tem o cidadão comum, mostrando-lhes como funcionam as finanças e a administração públicas. Como os poderes públicos estão estruturados. Quanto arrecadam e como gastam. Mas para isso, as igrejas têm que se especializar, tanto na formação quanto na idoneidade de seus ministros. Quando ministros religiosos se aproximam do poder político, se afastam de Cristo. A pessoa de Jesus é incompatível com o poder temporal. Religiosos que vivem na intimidade de políticos corruptos são infiéis a Cristo. Estão em busca de poder e riqueza. Gostam de aparecer. São vaidosos. Atitudes incompatíveis com a simplicidade de Jesus. Criam uma religião privada para ricos. São aproveitadores e mercenários. Jesus nos preveniu contra eles. Deveriam ser excluídos das igrejas. Não possuem vocação sacerdotal. Fantasiam-se de ministros. Estão longe da verdade divina. Sua pregação consiste em indiscrições e futilidades. Não têm cultura teológica nem bíblica. Numa época em que a sociedade precisa entender a religião para combater a epidemia de depressão e de desajustes familiares. Combater o vilipêndio imposto à pessoa humana. No momento em que a verdade religiosa poderia oferecer o discernimento ético e moral corretos ao caos dos valores sociais, ministros põem o rebanho a perder. Para as igrejas mudarem da prática do assistencialismo à consciência dos direitos civis e sociais pertencentes aos cidadãos, próprios de uma democracia, devem preparar adequadamente os seus ministros e, sobretudo, aproximá-los de Cristo. A nova caridade cristã não consiste em dar sestas básicas, mas em não permitir que o dinheiro do pobre seja roubado. O pobre e o iletrado são como crianças ingênuas que não percebem o perigo. Essa fragilidade exige o socorro do saber divino do qual as igrejas são portadoras. As igrejas fiéis a Cristo devem se afastar de influências políticas para não serem seduzidas por interesses mundanos. Para o Cristianismo, o poder é serviço. O poder é espiritual, não material. É por isso que ministros despreparados e ambiciosos devem ser demitidos. Eles não pertencem ao rebanho, vieram para confundir. A verdadeira caridade consiste em dar ao pobre a riqueza do saber para que defenda os seus próprios interesses. As igrejas devem dar ao pobre o direito escrito na Constituição e o dinheiro guardado nos cofres públicos.  

Paulo Pinto é pároco.