A Imprensa brasileira tratou Obama com declarado racismo: "Um negro na presidência". "Um presidente negro". "O mundo vai melhorar com um presidente negro na América?" Parecia que Obama acabara de descer de uma nave espacial.  Obama é um americano como qualquer outro. Pertence a uma elite intelectual, é um líder nato, e se destaca do americano comum por perceber que o mundo se expande para além das fronteiras de seu país.

Nos Estados Unidos há dois grupos de etnia negra: o que se identifica com a cultura africana, estiliza o cabelo e o vestuário, fala com expressões, gírias e sotaque próprios de povos africanos, embora sejam radicalmente americanos. O maior grupo se identifica com a cultura da população branca. Falam e se veste como todos os americanos. A este grupo pertence Obama: a pele é morena, mas a identidade é branca. Foi por isso que na campanha ele não se identificou com nenhuma etnia. Nem com grupos religiosos. A inteligência dele está acima das paixões que dividem os seres humanos. Fala como um estadista. Domina os problemas regionais e mundiais. Demonstrou que sabe comandar, num momento em que o egoísmo individual é característica comum em líderes regionais como Evo Morales, que mais parece o líder de uma etnia boliviana. Ou, como Lula, que no início do governo, pensava que poderia governar o país como quem comanda um sindicato.

Contrariamente, Obama é muito inteligente e os americanos veneram pessoas inteligentes. Foi com essa paixão que eles atraíram as melhores inteligências do mundo no pós-guerra para suas universidades. Mas Obama não é só um teórico saído de Harvard. Ele apresenta soluções práticas para problemas complexos, e tal habilidade parece magia aos olhos pragmáticos americanos. Além disso, Obama é filho da liberdade conquistada por Martin Luther King. Fala com altivez e segurança, livre das feridas e sentimentos de inferioridade que oprimiram o grande líder. Enquanto a depressão e a angustia enfraqueciam o homem que comandou a Marcha dos Negros sobre Washington, obrigando-o a tomar antidepressivos, Obama sorria cheio de auto-estima atraindo a população branca para colocá-lo na presidência. Próximo à Casa Branca está a estátua de Martin Luther King. Obama será vizinho dela. Mas para ter esse privilégio, conquistou os americanos pelo saber.  O saber das idéias, das soluções práticas e do saber ser americano. Ele foi eleito para defender os interesses do país. Em primeiro lugar o dever de casa, o bem estar da família. Quem comanda a economia americana são os mega empresários. Quem distribui a renda é o Senado. E quem policia o mundo é o Pentágono. Obama não vai contrariá-los, poderá mudar algumas regras do jogo, mas só algumas. Não terá ouvidos moucos para o mundo como o imperialista Bush, ele sabe que o povo americano ficará mais rico se abrir novos mercados para seus produtos. Quanto ao etanol brasileiro, podem tirar o cavalinho da chuva. Os empresários americanos vão obrigar Obama a subsidiar os agricultores deles. E não esqueçam, o maior sucesso de Obama entre os americanos, é que ele é mais patriota do que foram os senhores contrários à abolição da escravidão, cem anos atrás. Se a Imprensa brasileira soubesse disso, não teria dito tantas palavras inúteis. No mundo civilizado o patriotismo e o patrimônio superam as etnias.


Paulo Pinto é pároco de N.S. de Lourdes no Parque Dez.