A criatura humana no projeto de Deus é o homem e a mulher juntos: duas metades do mesmo ser. "Não lestes que o Criador, no começo, os fez homem e mulher, e disse: Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e serão os dois uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne"(Mt 19,3,6). Duas coisas deve se destacar no projeto de Deus: "no começo" e "uma só carne".

Jesus se reporta ao início, quando toda a obra da criação ainda era um projeto na mente criadora de Deus. O Criador desejava esculpir um ser parecido com Ele, e, portanto, diferente de todos os outros seres criados. "À sua imagem, Deus os criou". Quer dizer, a criatura humana deveria possuir a mesma identidade do Criador, que é Pai, Filho e Espírito Santo. Três pessoas num só Deus. Cada uma delas tem uma missão exclusiva na comunidade trinitária: o Pai é o criador, o Filho é o redentor e o Espírito Santo é o santificador. A característica mais marcante desta comunidade é a unidade, que possibilita às três pessoas viverem em perfeita harmonia, e, assim, acabarem por formar um único Deus.

Ou seja, quando Deus projetou na sua prancheta a criatura humana,
Ele o fez a partir da sua própria experiência existencial. Como conseqüência, a criatura humana não é o homem, nem a mulher, sozinhos. A criatura humana é o homem, a mulher e os filhos. Homem e mulher são duas partes do mesmo ser. É por isso que estão naturalmente voltados para o outro. Há um dispositivo intrínseco à natureza humana que faz com que se atraiam quando chega a idade, firmem um relacionamento de namoro, aprofundado com o noivado e finalizado com o casamento. Há um determinismo intrínseco à natureza de ambos, que não lhes tira a liberdade de escolha. Deus também cuidou de criá-los inteligentes e livres, dotados de determinação para realizar os seus projetos. Assim, se o casamento não der certo, ninguém pode culpar Deus, pois esse projeto humano é construído pelo próprio homem, que não apenas é o gestor de sua própria vida, mas da vida existente na Terra.

Homens e mulheres sozinhos não são felizes. Ou pelo menos, o máximo que podem alcançar é uma felicidade relativa. A felicidade humana não está relacionada somente com o poder, o dinheiro, a cultura e a técnica. Todos esses objetos de sedução são apenas instâncias acidentais de um projeto maior: a construção da criatura humana. E, essa, só é possível, quando homem e mulher se doam um ao outro em busca de sua própria identidade mais profunda: "ser uma só carne". O que logo se realiza com a chegada dos filhos. Aí a criatura humana se transforma numa família: homem, mulher e filhos. Mas o gosto da felicidade só é possível através de uma convivência duradora. Criar e educar filhos e transformá-los à imagem e semelhança dos valores morais, espirituais e afetivos dos pais, demanda tempo. Um longo tempo (Pároco de NS de Lourdes).