Domingo, dia 15 de março, lemos na missa uma belíssima página do capítulo 20 do livro do Êxodo: "Honra teu pai e tua mãe, para que vivas longos anos na terra que o Senhor teu Deus te dará". Como os pais do Êxodo, que saíram da escravidão do Egito, conheci muitos pais que vieram do interior quando os filhos ainda eram muito pequenos. Desejavam tirá-los daquela situação de pobreza, sem nenhuma perspectiva de vida melhor. Vieram para a cidade. Começaram morando na beira de igarapé. Depois conseguiram uma casa da Cohab nos conjuntos de Flores, Raiz e Castelo Branco. A casa era do tamanho de uma casinha de criança. Mas as crianças eram muitas e começaram a crescer. Foi necessário trabalhar muito para aumentar a casa. Naquele tempo só havia trabalho duro. Mas todo sacrifício valia à pena, especialmente agora que as crianças estavam indo à escola. Aliás, o maior motivo pelo qual a família viera para a cidade foi justamente para que as crianças pudessem estudar. Lá na beira do rio ou do lago não tinha escola e a mais próxima ficava há muitas horas de canoa.

Os pais amazônidas nasceram pobres e perdidos na imensa região. O sonho da maioria deles era vir para a cidade. Queriam que os filhos estudassem. Não queriam que os filhos continuassem a ser o que eles sempre foram: pobres e semi-analfabetos. Por isso, se sacrificavam trabalhando para que os filhos pudessem estudar. Queriam vê-los bem sucedidos. Os pais sempre querem o bem, o melhor para os filhos. Orgulham-se quando os eles concluem o segundo grau e fazem festa quanto colam grau na Faculdade.

Mas muitos desses filhos se envergonham de seus pais porque são pobres, ou porque não falam corretamente o português, usando expressões ou sotaque interiorano. A cidade é um lugar bom para morar, estudar e trabalhar. Mas a cultura da competição e do ter acaba por imprimir na juventude insuperável complexo de inferioridade, fazendo com que muitos se envergonhem de suas origens e famílias. Isso faz com que se lancem ao consumo para imaginarem-se iguais aos outros. Os pais humildes são abandonados neste universo de egoísmo e vaidades.

Quando o Livro do Êxodo foi escrito, não havia escolas nem qualquer ensino público acadêmico. O saber estava unicamente na cabeça dos mais velhos. A vida, o trabalho, a luta contra as doenças, a criação dos filhos e a contemplação da natureza, eram as disciplinas básicas do saber. Os mais jovens curvavam-se diante da sabedoria de seus pais e avós. Nada faziam sem recorrer a seus conselhos. Deles recebiam as aulas para o trabalho e as bênçãos para o futuro. Honrá-los causava grande satisfação. Pais a avós eram respeitados e venerados. A identidade dos filhos revelava-se no culto aos seus antepassados.

Paulo Pinto - Pároco de NS de Lourdes