Conheço gente que só lembra-se da sua mãe no dia das mães. E mesmo assim, não lhe dá nenhum presente, nem mesmo uma flor. São os filhos delinqüentes ingratos, que, felizmente, são poucos. Mas as mães nem sofrem com isso. Muito ao contrário, elas sofrem de verdade, quando os filhos sofrem. Por isso, no dia das mães, a maior alegria delas é saber que os filhos e netos estão bem. Se todos estiverem bem e lembrarem delas, a felicidade será ainda maior. Não porque foram homenageadas, mas porque puderam vê-los todos num só dia. Inclusive aqueles que moram distante. É por isso que o dia das mães é inesquecível, porque elas podem vê-los todos de uma só vez. De resto, todos os dias são dias das mães, pois elas pensam nos filhos todos os dias.

Se alguém quisesse saber qual a diferença entre o amor de Deus e o amor de mãe, bastaria ler a "parábola da videira" nos Evangelhos, que teria a resposta: Deus pune os filhos rebeldes, irresponsáveis, preguiçosos, que trilham o mau caminho. Ao contrário da mãe, que, quanto maior for a rebeldia ou delinqüência dos filhos, mas ela os ama.

A parábola afirma que o amor de Deus tem limites; contrariamente, constatamos que o amor de mãe não tem limites. É puro mistério. É algo que nem elas entendem, apenas sentem. É sublime, porém imperfeito. O perfeito é o que é equilibrado, sereno, na media certa. Mas não existe medida certa para o amor de mãe, porque ela não ama com a razão, mas com o coração. Deus age com a razão. A perfeição matemática do universo tem origem na razão divina. O caos excessivo do amor materno tem origem no coração da mãe. E, quanto mais excessivo ou caótico o amor materno, mas ele revela a grandeza infinita de Deus, porque nele o caos atrai a ordem divina. Antes da criação havia o caos. Criar é colocar ordem no caos. Das profundezas da desordem do amor materno sem limites pelos filhos ingratos, nasce a ordem divina. O ilimitado do amor materno revela os limites do amor divino. Ou seja, enquanto Deus pune os filhos delinqüentes, a mãe os ama exageradamente, em razão, justamente, da delinqüência deles.

Tudo na natureza para ter vida normal exige um ponto de equilíbrio: comer muito, beber muito, fumar muito faz mal. O excesso desequilibra o corpo, produzindo doenças, que atrapalham a felicidade e encurtam a vida. O desequilíbrio do organismo afeta o psiquismo, provocando instabilidade emocional, tensão, impaciência, angústia, depressão. O desequilíbrio psíquico acaba por provocar o desequilíbrio religioso, gerando o fanatismo. Assim, surgiram os homens bomba, que, matando, crêem está fazendo a vontade de Deus. No Ocidente, as celebrações emocionais com música excessivamente alta e choro, compulsivamente votadas para ídolos e expressões corporais, são formas de atenuar os conflitos. O único desequilíbrio contraditoriamente normal, por revelar a presença de Deus entre nós, é o ilimitado amor de mãe. Pois quanto mais excessivo e sem limites, mais sublime e divino.

Paulo Pinto é pároco de NS de Lourdes.