Carla Bruni e Nicolas Sarkozy passaram o réveillon de 2009 no Rio de Janeiro com Lula. Mas não foi porque a praia de Copacabana proporciona um espetáculo de luz e beleza naquela noite. Afinal, Paris é a cidade luz. Foi porque Carla Bruni estava cumprindo missão da esquerda radical italiana. Ou seja, Carla Bruni veio pedir a Lula que o terrorista Cesare Battisti não fosse extraditado para a Itália. Lula, que na época vendeu mundo afora a imagem de "o pai dos pobres" que iria acabar com a pobreza no Brasil, desejava ardentemente continuar bem na foto internacional, por isso assegurou à bela Carla que ia resolver o assunto. E resolveu. No dia seguinte ligou para o Supremo Tribunal Federal e determinou que Cesare Battisti fosse inocentado para ficar livre no Brasil. Como eu já havia antecipado em crônicas anteriores.

Daí em diante o Supremo Tribunal Federal proporcionou um imbróglio jurídico jamais visto na história republicana do país, para fazer a vontade de Lula. Primeiro, julgou que o terrorista era criminoso e determinou que fosse recolhido à prisão. Não esqueçam que Tarso Genro, ministro da justiça, havia decidido soltá-lo por entender que se tratava de refugiado político, embora não tivesse competência para fazê-lo. Depois que Carla entrou em cena o STF decidiu que, apesar de criminoso, a extradição dependia da vontade do presidente da República. Decisão estranha à competência constitucional do presidente da República.

Foi uma decisão eminentemente política e subserviente à vontade do presidente. Somente ao Supremo Tribunal Federal compete decidir pela extradição de criminosos, não, o presidente da República. Ao presidente da República compete decidir a extradição de refugiados políticos, o que evidentemente, Cesare Battisti não é, vez que foi julgado e condenado na Itália pelo assassinato de quatro pessoas, nos assaltos que sua facção criminosa praticava. Ante a perplexidade dos juristas, Lula deixou o assunto para Dilma.

O governo italiano contestou a sentença do Supremo e pediu que reconsiderasse a decisão. Ao analisar o recurso, o Supremo, decidindo extra petita, julgou que o Brasil é um país soberano e, portando, que suas decisões não podem ser contestadas por país estrangeiro. E, sob esse fundamento, declarou que Cesare Battisti é inocente das acusações pelas quais foi condenado na Itália. Ou seja, o que estava na pauta de julgamento, - a decisão de atribuir ao presidente da República a competência para extraditar um criminoso -, não foi discutido. Mas, sob o argumento de que o Brasil é um país soberano, o que todo mundo sabe, o Supremo, transformou em sentença definitiva a vontade de Lula. Pode? No Brasil pode. Pois, os ministros do Supremo Tribunal Federal são nomeados pelo presidente da República.

Em oito anos de governo, Lula nomeou sete ministros e Dilma o oitavo, em um colegiado de onze ministros. Com oito afilhados no Supremo Tribunal Federal, Lula já tinha batido o martelo desde a visita de Carla Bruni em 2009. A demora, é aquela aposta na curta memória do povo brasileiro. Teria Carla aprendido com Cleópatra?