Ele estava emocionado quando me disse: "Eu amo a minha avó". Além disso, os olhos estavam cheios de lágrimas. O rosto aflito. Pediu-me uma bênção para ela. Perguntei-lhe o que estava acontecendo. Ele disse que ela corria o risco de perder um pé por amputação. Era idosa e padecia de avançado diabetes. Deu-me o nome dela escrito num papel para que eu orasse. "Eu tenho rezado muito, mas será que Deus vai me ouvir?" Perguntava. Essa conversa aconteceu no final de uma missa quando muitas pessoas vêm conversar com o padre. Ele não tinha vergonha de chorar em público quando o assunto era sua querida avó que corria o risco de perder um pé. Era um adolescente, mas já tinha consciência do que significa perder um pé. Fiquei comovido com sua aflição e rezei a missa seguinte por ela.

Já vi muita gente adoecer gravemente, passar por cirurgias complicadas, amputações, ter a vida limitada em razão de saúde frágil. Já vi muitos com depressão, outros ficarem em cadeira de rodas, mas nunca vi um adolescente tão preocupado com sua avó. Filhos se preocupam com os pais, mas é raro os netos se afligirem com a saúde dos avós. Para este, a amputação parecia que cortaria um pedaço dele próprio. Dava para perceber que ele vivia numa unidade afetiva e psicológica com a avó.

Conheço netos que não têm o mesmo carinho com seus avós, dizem até que são muito chatos, encrencam, tiram a liberdade, vivem fazendo censuras comportamentais, são atrasados e não entendem o mundo de hoje. Esses querem ser livres para fazer o que bem entendem da vida. É como se não tivessem que dar satisfações de seus atos a ninguém.

Avós são, com raríssimas exceções, criaturas meigas, excessivamente carinhosas e protetoras dos netos. Alguns fazem todas as vontades deles: mimam, não deixam faltar nada, deixam de comprar seus remédios para dar o dinheiro pra eles. Avós são pessoas maduras, vividas, sofridas. Conheço muitos que criaram os próprios netos de filhos solteiros. E conheço muitos que são maltratados por esses netos que foram criados com muito carinho. Esses netos malvados não passaram fome nem penúria; não foram obrigados a trabalhar desde criança; tiveram a oportunidade de estudar, mas nem ligam para o futuro. Netos que até hoje, adultos, vivem na dependência dos avós e os maltratam porque a aposentadoria deles não dar para pagar a sua fome insaciável de consumo. Mesmo assim não vão trabalhar.

Avós são pessoas sublimes. São duas vezes pais. Ser pai em dobro aumenta a doação de si mesmo. Quanto mais velhos mais sábios; Quanto mais maduros mais pacientes; Quanto mais avançam na vida mais se despojam de seu amor próprio para se deixarem invadir pela auto-estima dos netos. É como se aniquilassem lentamente sua própria identidade para substituí-la pelo encanto das novas gerações. Quanto mais virtuosos mais apaixonados pelos netos; Quanto mais emotivos mais cegos para as imperfeições deles. Quanto mais sofrem mais seu amor cresce. Os avós são os mestres do amor verdadeiro. Do amor que desaparece e morre para que os netos apareçam e vivam.

Paulo Pinto Pároco de NS de Lourdes