No 2º domingo de janeiro a Igreja celebra a festa do batismo de Jesus. Daí surge a pergunta: Jesus precisava ser batizado?. Vamos ver. Logo após o dia de pentecostes, em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos e discípulos reunidos em Jerusalém, estes se encheram de entusiasmo e começaram anunciar o reino de Deus. As pessoas que ouviam a pregação e aceitavam Jesus como filho de Deus, pediam para serem batizadas. Entre a escuta da palavra de Deus e o batismo, às vezes passavam-se muitos dias, meses e até anos. Muita gente precisava de um tempo para refletir. Seguir a Jesus com o compromisso de levar vida virtuosa e santa exigia uma mudança radical. Os primeiros cristãos chamavam essa mudança de conversão, seguindo o ensinamento de João Batista, "convertei-vos e crede no evangelho". Operava-se uma mudança total no coração e na mente do fiel.

Nos primeiros séculos a comunidade ajudava os candidatos ao batismo com até dois anos de instrução e acompanhamento. E assim, depois de conscientes dos novos valores que a vida cristã exigia, eles pediam para serem batizados. O batismo era um ritual religioso e simbólico, um conjunto de orações, água, vela, vestes apropriadas, que exteriorizava uma realidade já existente no coração do fiel: a fé. Assim, primeiro nasce a fé, depois vem o batismo. O conjunto ritual do batismo externa, divulga para toda a comunidade, a fé, que nasceu, às vezes longamente gestada, no coração do fiel. O batismo é, portanto, uma adesão livre da vontade. Não existe batismo sob coação, nem por medo. Deus não obriga ninguém, Ele ama a todos, mas deseja que venham ao seu coração livremente.

Mas uma criança não tem tal maturidade para entender o processo da fé, nem a liberdade para aderir aos valores da vida cristã. Neste caso, os pais decidem por ela. Se a fé cristã é caminho de santidade e de salvação para os pais, por que não dá-la aos filhos desde pequeninos? Os apóstolos batizaram muitas crianças, pois conforme relatos dos Atos dos Apóstolos, o dono da casa se convertia e pedia para ser batizado com toda a sua família. E naquela época, mais do que hoje, havia muitas crianças em cada família. Depois que o Ocidente tornou-se cristão, os pais faziam questão de batizar os filhos desde que nascessem, consagrando-os a Deus como fez os pais de Jesus levando-o para ser consagrado no Templo de Jerusalém, logo depois do nascimento. Consagrar os filhos a Deus logo depois do nascimento era prática realizada pelos judeus desde os tempos antigos. Eles acreditavam que os filhos eram um presente do Criador e pertenciam a Ele. A consagração evitava que os filhos morressem na guerra, fossem atacados por animais ferozes ou morressem acometidos pelas epidemias que dizimavam as populações.

Hoje em dia todas as pessoas deveriam batizar as crianças antes de completar um ano para livrá-las das doenças. Encontramos crianças de cinco anos com câncer, com AID'S, diabéticas, coração grande e outros males. E, no futuro, no mundo das drogas, da violência, da prostituição infantil e da marginalização, não sabemos o que será delas. E como não temos o poder de protegê-as desses males, é melhor consagrá-las a Deus, Ele cuida melhor do que nós.

PAULO PINTO é pároco de NS de Lourdes.