Disse-me um paroquiano que a tevê mostrou no interior de Minas Gerais um cemitério que tinha na entrada uma inscrição: "Oh mortal que por fora passas, não sejais arrogante nem vaidoso, porque eu já fui como tu és, e tu serás como eu sou". Quer dizer, o cemitério é o endereço de todos, pobres e ricos, humildes e arrogantes, feios e bonitos. Lá todos habitaremos como bons vizinhos, sem qualquer discriminação. Mesmo que as sepulturas sejam diferentes por fora, a terra e a escuridão serão o único lar de todos.

Os antigos temiam a escuridão dos túmulos fechados. À essa escuridão das profundezas da terra chamavam Hades. Tinham certeza de que os maus dela não escapariam. Mas os bons, nela não permaneceriam. Enquanto os maus desceriam à escuridão, os bons subiriam à altura das nuvens, um lugar luz, e teriam os deuses como vizinhos.

Jesus confirmou a existência dos dois lugares e acrescentou ao lugar de escuridão, o fogo, dizendo-o, eterno, porque nunca se acaba, destinado aos maus. Ao lugar de luz disse que é a morada de Deus, onde Ele preparou desde antes da criação do mundo o lugar dos bons. Condicionou a conquista deste lugar de perfeita harmonia e beleza à prática da caridade: "Eu estava nu e me vestistes; estava com fome e me destes de comer; estava doente e me socorrestes".

As grandes religiões fundem-se em torno da ética do bem. Os homens de fé sabem que por caminhos diversos as religiões se encontram no mesmo ponto de partida: a caridade. A caridade não é uma verdade teórica, mas uma virtude prática. Em religião não existem verdades unilaterais. As verdades fragmentam, dividem, politizam. As virtudes congregam, fortalecem, dão vigor e unidade aos seres humanos. As virtudes são a expressão prática da bondade e da semente divina presente em todos os homens. As verdades são frutos da arrogância e da vaidade, o desejo de ser igual a Deus. Foi aí que nasceu o pecado. Satanás era um anjo bom que num ímpeto de vaidade desejou ser igual a Deus, e, assim, foi expulso do Paraíso. Muitos homens e mulheres em razão do dinheiro ou do cargo pensam que são iguais a Deus. Lula, nestes dias, disse que se Jesus viesse hoje teria que fazer aliança com ele. Botou Jesus ao nível da base de seus aliados e, portanto, inferior ao próprio Lula.

É no cemitério que as vaidades fenecem. Enterrei homens que quando com saúde e poder pensavam que eram imortais. Arrogantes, só pensavam em grandeza e poder. Achavam-se superiores aos demais. Doentes, carcomidos pela doença, pareciam pior que míseros mendigos, irreconhecíveis. Tive pena. Acompanhei-os ao cemitério e, enquanto rezava para que Deus os acolhesse no Paraíso, lembrava-me do mal que haviam feito à coletividade ou às suas famílias. Foi aí que tive a certeza de que o cemitério é a morada de todos, mas, o Paraíso, certamente, não. Paulo Pinto é pároco de NS de Lourdes.