Há dias a TV mostrou passeata em Copacabana, na qual homens e mulheres se manifestavam publicamente à procura de namorados. Saíram às ruas para, segundo eles, "combater a solidão". Um dos mais intrigantes fenômenos sociais que experimentamos hoje é o fato de vivermos sempre em meio à multidão, e, ao mesmo tempo, nos sentirmos sozinhos. Quando estamos no shopping, no estádio de futebol, na sala de aula, na igreja, na reunião de casais ou de pais na escola, estamos sempre em meio a muitas pessoas; mas, estranhamente, parece que estamos sempre sozinhos. Com os namorados acontece a mesma coisa. A cada mês, ou a cada duas semanas, eles "ficam" com alguém. Namoro e noivado não é mais um processo de conhecimento do outro, preparatório para o casamento. Namoro, hoje, é "uso", "passa-tempo", "tira-gosto", do outro. Atitude própria da sociedade de consumo. Namorar é uma forma de "consumo"; e quando estamos a "consumir" o outro, o estamos tratando como se fosse um objeto, uma coisa, idêntica àquelas que compramos no supermercado. Compramos, usamos, e nos descartamos dela.

Esse processo começa longe, com o aprimoramento da economia de mercado, o capitalismo. Para o capitalismo, devemos produzir ou fabricar para vender. Ou seja, tudo pode ser trocado por dinheiro. Pouco a pouco o dinheiro foi tomando conta dos nossos sentimentos. O respeito pelos mais velhos, os valores familiares de obediência e carinho de uns pelos outros, foram saindo do âmbito familiar e passaram a ser direcionados para as pessoas que, na sociedade, têm dinheiro. Capital é dinheiro; e, no capitalismo, quem tem dinheiro merece todas as reverências. Deixamos de lado nossos pais e avós para reverenciar quem tem dinheiro ou poder. Os grandes ídolos, cultuados e reverenciados pela juventude, são homens e mulheres que têm fama, poder e dinheiro. Você reverenciaria como ídolo o seu João, pedreiro, da Zona Leste, só porque ele é um homem honesto e não trai a esposa? Nossas mentes e corações são escravos do materialismo. Muitos não sentem prazer algum em cuidar dos pais ou avós idosos. Outros perderam qualquer estímulo de bondade ou de afeição por parentes próximos. Nossos antigos sentimentos de honra decorrentes da agregação familiar foram sendo substituídos por uma "afeição", pelos bens materiais. Em muitas pessoas essa "afeição" virou uma compulsão doentia pelo consumo, pelo ter. A felicidade de muita gente, hoje, não está no fato de seus pais terem sido dedicados ao trabalho e construído o seu patrimônio com honestidade. A honestidade e a integridade moral já não são mais as principais virtudes do caráter. A sociedade não lhes dá qualquer valor. Virtuosos e respeitáveis são os que têm dinheiro, mesmo que sejam desonestos. Esses são reverenciados pela sociedade. Perdido o tronco familiar, fonte insubstituível de todos os atributos necessários à formação do homem plenamente são, equilibrado e virtuoso, resta um ser guiado pelos estímulos negativos que provêem do "homem moderno", desvairado, delinqüente, doente, compulsivamente no cio, como os animais inferiores e cheio de fantasias infantis, próprias de uma sociedade menor. É por isso que têm muita gente solteira vivendo em solidão. Porque não tendo os ingredientes básicos da formação humana e moral, tratam os outros como se fossem coisas, objetos de prazer, plenamente descartáveis. Ora, quem é que quer namorar tais pessoas?

Paulo Pinto é pároco de Nossa Senhora de Lourdes.