Pela primeira vez na vida fiquei com vergonha quando vi hastearem a bandeira brasileira. Lá no alto do morro do Alemão. O pavilhão nacional hasteado naquele momento e naquelas circunstâncias significava "esse território é nosso", dizia o repórter. Fiquei envergonhado por saber que existem territórios dentro do país que não pertencem ao Brasil. Territórios independentes, não porque lá habitam outras nações, de raça e língua diferentes da nossa, mas porque lá existe um poder bélico e uma ordem jurídica totalmente contrária à nossa e que nunca tínhamos tido coragem de enfrentar. Foi necessário a mobilização de várias forças; Marinha, Exército, Aeronáutica, Polícia Federal, Polícia Civil e Polícia Militar. Tanques, artilharia pesada,      helicópteros, estratégia de guerra, cerco, batalha final, inteligência, centro de comando de operações, para, finalmente o Brasil vencer a guerra contra o tráfico de drogas. O impressionante é que o território que não pertencia ao Brasil situava-se a dois quilômetros da chiquérrima praia de Copacabana e a quinhentos metros do Cristo Redentor, uma das maravilhas da humanidade. O Brasil tem essa peculiar característica de ser o país em que as periferias pertencem a um poder marginal e os centros urbanos pertencem a um poder central, que embora seja constitucional, nem sempre é ético ou patriótico. Na verdade o Brasil é um grande latifúndio, dividido entre proprietários do bem e proprietários do mal, ou forças do bem e forças do mal; e muitos proprietários do mal, não estão no poder paralelo da periferia, mas no centro, protegidos pela legalidade, porém lesando a cultura de paz e dilapidando o patrimônio do povo brasileiro. Não fosse essa perversa compulsão mercenária de muitos "homens de bem", não existiriam pedaços do território brasileiro governados por bandidos. Pois quando se governa para os cidadãos, as riquezas são distribuídas equitativamente, e todos delas se beneficiam, eliminando a miséria e a promiscuidade das favelas. Bastaria levar o desenvolvimento econômico e os serviços básicos que o estado deve oferecer aos cidadãos e tem recursos para fazê-lo.

No Rio de Janeiro, já na década de 1960, Dom Helder Câmara criou a Cruzada de São Sebastião para eliminar as favelas próximas do centro da cidade, construindo um grande conjunto habitacional no Leblon. Depois foi Carlos Lacerda, inspirado em Dom Hélder, quem construiu as Vilas Kennedy e Aliança para reunir os favelados da Zona Oeste. Mas depois disso, todos os recursos foram canalizados para as áreas ricas. É sempre assim, os que estão no poder não moram na periferia, por isso só cuidam das áreas onde mora a classe média e a rica. Não sobram recursos para resgatar os pobres. O Brasil pertence às oligarquias políticas. Veja-se a disputa dos partidos da base do governo por cargos no próximo governo do PT, considerando-se que todos os cargos do PT já estão garantidos. Todo mundo quer ficar com uma fatia do poder para ter acesso às riquezas da nação. Não existiriam territórios independentes, nem favelas, nem miséria, se os que dirigem a nação governassem para o povo brasileiro.

Paulo Pinto é pároco de NS de Lourdes.