O ódio, o ressentimento, o desejo de vingança, são sentimentos terríveis, capazes de corroer as pessoas por décadas, tirando-lhes a paz e a harmonia interior. Não existe outro método mais eficaz de causar sofrimento a si mesmo, do que nutrir tais sentimentos. Muitas vezes a pessoa que causou o mal, mudou-se para outra cidade e já nem sequer se lembra da vítima, mas a vítima continua a alimentar o sentimento como se a ofensa tivesse acontecido ontem, e o sofrimento, continua crescendo.

Quando alguém nos atira uma pedra na cabeça, a ferida aberta tem uma explicação científica: um corpo sólido atirado a certa velocidade contra o crânio de uma pessoa causa uma lesão que pode, inclusive, levar à morte. A dor que decorre é plenamente explicada pelo impacto do projétil. Mas a dor causada pelo ódio, ou pelo desejo de vingança, é unicamente explicada pelo sentimento que a vítima alimenta em seu espírito.

 

Se a pessoa ofendida tivesse outra compreensão dos fatos, ou melhor, da vida, certamente deixaria de sofrer tanto. Quem alimenta qualquer tipo de ressentimento ou ódio, o faz por cultivar em seu espírito a falsa concepção de que o agressor não deveria ter feito aquilo com ela. Ora, entre pessoas reconhecidamente imperfeitas, todas as formas de agressões e ofensas mútuas, injustas ou defensivas, são perfeitamente normais. Seria muito bom que nós nunca fôssemos injustamente agredidos, mas num mundo de imperfeições até o injusto é normal.

 

Quando uma pessoa alimenta em seu espírito sentimentos negativos, eles lhe tiram a serenidade e a harmonia interior, mas o pior é que lhe tiram a sabedoria para conduzir a sua vida. As pessoas devem aceitar o fato de que, assim como a qualquer momento elas podem receber presentes ou flores, carinho e atitudes de afeição, também podem ser agredidas ou difamadas. O mal e o bem estão presentes no cotidiano de nossas vidas. Ou melhor, o mal e o bem são inerentes à natureza humana. Nós queremos ser elogiados, respeitados, bem tratados e se pudermos ser alvo de todas as atenções, melhor ainda, pois tais atitudes homenageiam o nosso ego. O ser humano é de todos os animais, o mais delicado e seguramente o que mais precisa de cuidados para se afirmar e chegar a ser pessoa. É por isso que as ofensas têm grande repercussão em nossas vidas, ao ponto de se tornarem feridas abertas por anos em nossas almas, causando grande sofrimento e retardando consideravelmente o amadurecimento humano.

Esse método de evitar sofrimentos desnecessários, embora difícil de praticar, não é impossível, pois depende apenas do grau de conhecimento que a pessoa tem de si mesma e da intuição que possui da natureza humana. É um método filosófico-racional, que consiste em tornar a própria pessoa no psicoterapeuta de si mesma. Ao perceber que ela é a única causa de seus próprios sofrimentos, decide arrancá-los da sua mente, substituindo-os por argumentos racionais em favor do crescimento material, da busca de maior amadurecimento humano e da realização profissional e afetiva. Assim, não fique metendo o dedo em feridas antigas, ao contrário, cure todas com os mecanismos da razão, em benefício de sua saúde física e mental.

Paulo Pinto é pároco de N.S. de Lourdes, no Parque Dez.