MINISTÉRIO DO ACOLHIMENTO

Uma Bondade que acolhe!

"Daí de graça o que de graça recebestes!" (Mt 10,28)

"Não vos esqueçais da hospitalidade pela qual alguns, sem o saberem, hospedaram anjos." (Hb 13, 2)

 

BREVE HISTÓRICO

O Ministério do Acolhimento foi instituído pelo Eminentíssimo Senhor Cardeal Dom Eusébio Oscar Sheid, Arcebispo Metropolitano de nossa Arquidiocese São Sebastião do Rio de Janeiro.

Em dezembro de 2004, Sua Eminência investiu os Ministros e Ministras deste novo Ministério.

"Em termos bem simples, entendemos ministério, a partir da missão, recebido como dom do Espírito Santo, reconhecido e aceito pela hierarquia da Igreja (LG,12) para ser exercido em favor da comunidade cristã e católica por delegação da autoridade competente. Cada elemento, apontado anteriormente, deve ser cuidadosamente analisado e abraçado com fé.

Há historicamente conhecidos e exercidos os ministérios ordenados e não-ordenados, sendo que uns são permanentes e outros, transitórios.

Os transitórios ordenados são: o Acolitato e o da Palavra.

Os permanentes: o Diaconato, o Presbiterato ( Sacerdócio) e o Episcopado. Porém aqui não falamos propriamente desses ministérios clássicos. Apoiados na Sagrada Escritura, descobrimos muitos ministérios, mais exercidos na época apostólica e pós-apostólica, inerentes à ação da Igreja no mundo que britarão diretamente da característica ministerial da comunidade eclesial pela efusão do Espírito Santo. São Paulo, especialmente, não se cansa de apelar para esses ministérios como sinais da vitalidade e da harmonia das igrejas primigênias, para serem fiéis à atuação do Espírito Santo.

A Igreja dos primeiros séculos tem plena consciência desses ministérios, graças, carismas ou dons do Espírito Santo. É bem nítida e adotada pelas comunidades a idéia de que esses diversos dons, carismas e serviços são concebidos em vista do bem comum das comunidades. Convém citar o que a Lumem Gentium, nº 12 ensina com tanta clareza.

‘Por elas, as graças, os torna aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para a renovação e mais incremento da Igreja, segundo estas palavras: A cada um é dada a manifestação do Espírito para utilidade comum (1Cor 12,7). Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja. Os  dons extraordinários, todavia, não devem ser temerariamente perdidos, nem deles devem presunçosamente ser esperados frutos de obras apostólicas. O juízo sobre sua autenticidade e seu ordenado exercício compete aos que governam a Igreja. A eles em especial cabe não extinguir o Espírito, mas provar todas as coisas e ficar com que é bom (cf. 1Ts 5,12. 19-21)'.

A prática pastoral tem como ministérios: ‘carismas, as graças, que assumem a forma de serviço à comunidade e  à missão, no mundo e na Igreja, e que, por esta, é como tal acolhido, reconhecido e conferido pela autoridade da Igreja.'

Portanto, ministério é um carisma, ou seja, um dom de  Deus, uma graça, que capacita seu portador a desempenhar determinadas atividades, serviços e ministérios em ordem à salvação de todos.

A Exortação Apostólica Christi Fidelis Laici diz, sinteticamente, a respeito dos Carismas: ‘ a) são dons e impulsos especiais; b) assumem as variadas formas; c) têm uma utilidade eclesial; d) florescem também em nossos dias e  podem gerar uma afinidade espiritual entre as pessoas; e) devem ser recebidos com gratidão; f) necessitam de discernimento; g) devem estar referidos aos pastores da Igreja'(nº 24).

Há que considerar, como ministério efetivo, o reconhecimento pela comunidade eclesial, pois a multiplicidade de tarefas e serviços que o leigo desempenha na Igreja hoje pode levar a equívocos, muitas vezes prejudiciais.

Por isso, ‘só pode ser considerado ministério o carisma, o dom, que, na comunidade e em vista da missão da Igreja e no mundo, assume a forma de serviço bem determinado, envolvendo um conjunto mais ou menos amplo de funções, que respondam às exigências permanentes da comunidade e da missão...' ( CL, 23).

Especialmente a partir das profundas considerações e exigências do Concílio Vaticano II, das Conferências Episcopais regionais e continentais, do repensamento de nossa responsabilidade comum pela Igreja a partir do Batismo e da Confirmação, vai crescendo entre os membros da Igreja Católica a necessidade de colocar à disposição de todos o que cada um recebeu como carisma ou dom pessoal. Nasce, assim, e se desenvolve a consciência da ministerialidade da Igreja como foco dinâmico e evangelizador.

Entendemos, hoje mais do que nunca, que o Batismo nos convoca para a obra evangelizadora e para sermos testemunhas e instrumentos vivos na participação da Igreja (AG,41)".

Dom Eusébio Oscar Sheid

 

O PLANO PASTORAL ARQUIDIOCESANO FALA SOBRE O ACOLHIMENTO

55. Violência, pobreza, ganância, individualismo são temas que se fizeram presentes durante a elaboração do 10º Plano de Pastoral de Conjunto. Isto aconteceu porque sentimos, na pele, as conseqüências destas atitudes. Ao contemplar, com tristeza, tais situações e suas conseqüências, vemos claramente a presença do pecado que destrói o sonho de fraternidade e comunhão que Deus desejou para toda a criação.

56. Importa perceber que as sombras de nosso tempo deixam conseqüências não apenas nos corpos, ferindo-os, muitas vezes até à morte, seja por uma bala perdida, seja por fome, desemprego, falta de moradia, saúde e educação... As sombras também mergulham no profundo dos corações e das consciências humanas, fazendo com que nos tornemos fechados em nós mesmos, algumas vezes por individualismo, outras por medo.

57. Basta caminharmos por nossa cidade para percebermos o aumentar de muros, grades, sistemas de segurança, que, é claro, protegem vidas e patrimônios. Pena que também constatamos corações trancados por dentro, vidas preocupadas apenas com seus próprios problemas!

58. Em todos estes exemplos e em muitos outros, a Bondade Divina nos convida a ouvir a vergonhosa resposta de Caim ao Deus que pede contas da vida de Abel: "Por acaso sou responsável por meu irmão?" Esta triste e arrasadora resposta permanece, infelizmente, sendo repetida ao longo da história. Ela questiona os cristãos, de todos os tempos e também de hoje, a iluminar as sombras do individualismo com a luz da fraternidade.

59. Em muitos casos, não há como deixar de reconhecer que os desafios são grandes para nossas forças. Há situações que exigem trabalho a longo prazo, com paciência e certeza de não participaremos na hora da colheita. Nestes casos, devemos fazer o que for possível, deixando que, por meio de outros, o Senhor complete a sua obra. O importante é semear!

60. Neste sentido, o Espírito Santo tem mostrado à Igreja de nossos dias, num tempo de individualismo, de fechamento, de crise da fraternidade, que o ACOLHIMENTO é referência concreta para todas as nossas atividades pastorais.

61. O ACOLHIMENTO é uma atitude indispensável para que a luz de Cristo se manifeste em meio às sombras. É uma das atitudes mais palpáveis para manifestar a Bondade de Deus. Não transforma toda a realidade de uma hora para a outra, mas estabelece a base sobre a qual haverão de  se erguer novos relacionamentos, novos estilos de vida.

62. É o ACOLHIMENTO gratuito, desinteressado, fraterno e solidário que nos vai distinguir em meio ao empório religioso de nosso tempo, mais preocupado em receber quem, de algum modo, pode pagar pelos benefícios que talvez ganhe. Acolher, sem nada pedir em troca, é grito profético a um mundo que tudo mede a partir da retribuição. Quem acolhe como Jesus acolheu não está falando apenas para a pessoa acolhida. Está, na verdade, testemunhando, para o mundo da ganância e do consumo, que, em Cristo, é possível concretizar um novo jeito de viver. Este jeito - é bom que se repita! - há de marcar pessoas e atividades pastorais.

63. Durante a elaboração do 10º PPC, um aspecto fez presente com assustadora freqüência. Trata-se da burocracia. Foi uma espécie de queixa comum, vinda de diversos segmentos da ação pastoral no Rio de Janeiro.

64. Por burocracia, entendeu-se a colocação de normas e procedimentos acima dos relacionamentos entre as pessoas. Estas, assim como em  muitos outros setores de nossa sociedade, acabam sendo tratadas como números, avaliadas a partir de documentos e capacidade para cumprir exigências.

65. Não são poucas as queixas decorrentes do mau acolhimento. São conflitos nas secretarias paroquiais. São comunidades fechadas em torno das mesmas pessoas, que mandam em tudo e há tanto tempo que ninguém lembra mais. São pastorais, movimentos e associações tão envolvidas na correria de suas próprias atividades que nem percebem a dor e a angústia de seus membros. Parece uma autofagia!

66. Esta burocracia estabelece barreiras entre pessoas e comunidades. Algumas destas barreiras acabam por se tornar intransponíveis, fazendo com que determinadas pessoas, principalmente as mais simples, sintam-se tratadas na Igreja Católica do mesmo modo como o são em outros tipos de instituições.

67. É claro que é indispensável organizar o trabalho. É preciso cercar-se de cuidados para que o nome de Deus e os tesouros espirituais da Igreja, notadamente os sacramentos, recebam o devido respeito e carinho. Este fato, porém, não pode se tornar um impedimento ao contato direto entre a comunidade que acolhe e a pessoa que procura. Os procedimentos organizativos não podem valer mais do que o preceito evangélico de que "o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado."

68. Infelizmente, nossas comunidades são muitas vezes procuradas, por exemplo, para celebrações mais preocupadas com os aspectos sociais e festivos do que com o verdadeiro encontro com Deus. Como é triste ver pessoas que não valorizam a vida em comunidade, querendo tudo somente para si e do jeito como desejam! São casos como estes que levam as comunidades a reagirem, solicitando documentos e estabelecendo exigências por vezes exageradas.

69. Este excesso de burocracia revela uma preocupação válida. Trata-se do esmero por bem cuidar das coisas de Deus, evitando, por exemplo, que pessoas despreparadas, ou mesmo no momento impossibilitadas, participem dos sacramentos. A solução deve, contudo, ser buscada em outro local; não na burocracia.

70.  Ciente, portanto, de que a burocracia não é o melhor caminho para manifestar o Bondoso Deus que a todos acolhe e compreende, a Igreja Católica no Rio de Janeiro, sob a luz do Espírito Santo e sob a orientação oficial, vê no ACOLHIMENTO o verdadeiro caminho para a doação alegre e eficaz em toda a ação pastoral.

71. Inicialmente, AOCLHIMENTO é atitude, espiritualidade e mística, que deve percorrer tudo o que as pessoas, grupos e comunidades fazem. Todos podem e devem ser acolhedores. À medida que esta espiritualidade for envolvendo as atividades pastorais, mudar-se-á o jeito de agir, alterando-se as prioridades e melhorando quaisquer relacionamentos.

72. O ACOLHIMENTO é também um grupo pastoral bem organizado, com encontros periódicos, coordenação, planejamento e tudo mais. Cabe à Pastoral do Acolhimento olhar o conjunto da vida da comunidade, discernir onde não está acontecendo este espírito evangélico e encontrar caminhos para que ele ocorra com toda a intensidade.

73. Dentro desta atividade pastoral, destaca-se o Ministério do Acolhimento. Um ministro do Acolhimento é, entre outros aspectos, aquela pessoa que, tendo o dom para compreender, escutar e acolher, dedica a maior parte de seu tempo para este trabalho, tendo para isso, recebido o mandato da Igreja. Dom, preparação e dedicação intensa, chamado de Deus e investidura oficial são as principais condições para qualquer ministério na Igreja de Cristo.

74. Na comunidade, todos devem assumir a mística do ACOLHIMENTO. Para que o trabalho avance, é bom organizar uma Pastoral do Acolhimento e, para que esta pastoral cresça ainda mais, a Igreja institui algumas pessoas como Ministros e Ministras do Acolhimento. São três etapas distintas da mesma realidade. Nem todos serão ministros do Acolhimento, mas todas as pessoas, da mais jovem à mais idosa, são solicitadas a deixar-se permear desta atitude evangélica.

75.  A instituição dos ministros e ministras visa a fortalecer a Pastoral do Acolhimento, que por sua vez, deve animar toda a comunidade. Quando bem preparados, unidos entre si e com o coração sempre voltado para Jesus Cristo, os ministros do Acolhimento tornam-se instrumentos vivos do amor de Deus que a todos acolhe.

76. Ser ministro na Igreja não caracteriza privilégio, honraria ou destaque. Antes, como o próprio nome já indica, é serviço, que exige dedicação, que implica cansaço e até mesmo sofrimento. A beleza, porém, está no fato de que, por trás de cada ministro ou ministra do Acolhimento, está o próprio Cristo Jesus, que no Espírito Santo, acolhe para o Pai e "para as coisas do Pai".