Da educação para a paz brota uma cultura da tolerância: as identidades se abrem ao encontro recíproco, a pluralidade é vista como oportunidade de construção social e as diferenças já não escusam qualquer ação de violência e ataque ao outro. Posições discriminatórias e agressivamente excludentes se revelam desumanas. O contexto histórico-civilizacional em que vivemos assimila identidades específicas, desde que orquestradas por uma ética universal comum, baseada no primado da vida, no diálogo responsável entre as partes, na cidadania e no direito.

Instituições seculares como o Estado, a Academia e a Religião deixam de ocupar os centros do poder, para se posicionarem como guardiãs da vida e promotoras do bem comum, até mesmo para além de suas legítimas fronteiras ideológicas ou confessionais. Diante dos riscos concretos de destruição e cancelamento do outro, o que está em jogo não é somente a própria identidade institucional, mas a vida humana. Entender isto, desde uma identidade precisa, permite resignificar o que se é e o que se crê, sem isolar-se unilateralmente no mosaico das sociedades.

Daí nosso olhar sobre o fundamentalismo religioso. É preciso compreendê-lo para superá-lo. Para isso nos ajuda José Knob, teólogo e professor. Seu artigo focaliza o fundamentalismo judaico, cristão e muçulmano. Distingue entre a revelação da verdade e sua assimilação vivencial. Elogia a tolerância e a humildade histórica das religiões.

Ecoando suas raízes orientais, SHIgeyuki Nakanose lê a Bíblia na ótica do pluralismo e da tolerância. O biblista constata que o Povo de Israel é uma composição de múltiplas facetas culturais, étnicas e religiosas. As tensões internas se transformam em escola de convivência para os clãs de Israel e de Judá.

Oportuna contribuição nos vem do canonista Celson Altenhofen. Seu artigo alia competência jurídica e sensibilidade pastoral. O autor identifica os efeitos perniciosos do jurisdicismo e esclarece o objetivo do Direito Canônico: promover a co-responsabilidade dos sujeitos e instituições eclesiais, em vista da comunhão e da salvação de todos. Este artigo favorece uma leitura mais lúcida dos cânones eclesiásticos.

Na seção Relatos, três autores oferecem sua reflexão. Afonso Murad fala da missão do teólogo, peregrino da fé numa cultura plural. Jung Mo Sung aborda a relação entre religião, educação e solidariedade. O tom coloquial não disfarça a profundidade do tema, que remete à questão do sentido da vida. Por fim, José Francisco Schmitt pontua a trajetória do Convento SCJ de Taubaté, que cumpre oitenta anos de serviço à Igreja e constitui o cimento moral e intelectual da recém fundada Faculdade Dehoniana.

Com este volume, TQ deseja favorecer a prática de uma das mais luminosas bem-aventuranças de nosso tempo: a tolerância. Exercida na esfera da legítima pluralidade cultural e religiosa, ela promove a paz e humaniza as relações. Não é por acaso que Alonso Schöckel traduziu uma famosa recomendação de Jesus nestes termos: "Aprendei de mim, que sou tolerante e humilde de coração" (Mt 11,29).