Festival animalesco de ódio no País da selva amazônica...

Há dias teve início a corrida presidencial do segundo turno, no maior País verde do Globo... Mas, atenção! Está aberta a temporada de caça...

A diferença entre opostos ganha a cor quase sangrenta do ódio.

Na selva política transamazônica do Brasil, não importa o alvo, a regra é atirar para todo lado...

Ops! Engano-me, há alvos prediletos, sim.

Tanto melhor para a comédia dos trágicos se forem abatidas três espécies: a dos míticos dragões vermelhos e pré-históricos (criaturas infernais cuspidoras de fogo e comedoras de criancinhas); a dos bichanos coloridos de bico grande e ameaçados de extinção (sempre adequados para pose de cartão postal) e, principalmente, aquilo que seria o grande saldo dos embates e abates dessa temporada: o massacre absoluto da opinião emitida pela espécie predominante na Terra de Santa Cruz, os cordeiros e pombos brancos (afinal, que têm eles que saírem do recatado e sacrossanto ambiente domiciliar para ruminar e bicar na cova dos leões?!).

É um mata-mata só da dignidade alheia! Quem escapa fica preso na língua das víboras fofoqueiras, semeadoras de intriga e de discórdia...

Na briga odiosa entre os opostos, há regras democráticas para um espancamento tipo vale tudo. Na defesa de seus territórios ideológicos ou simples disputa pelo poder, vendem até mãe na feira por vinténs de falta de escrúpulo, com o estapafúrdio pretexto desenvolvimentista de readquiri-la, depois, no shopping, com os cartões de crédito da ética de uma sociedade mais justa... Ah!... Vá pentear macaco sô!

Nestes campos minados dos interesses públicos ou privados – sempre em nome da coletividade – que colidem entre si auto destrutivamente, todo aquele que “der pitaco” ou “meter a colher enferrujada” na política partidária, é tratado como suspeito de ser o assassino daquele não morreu, a saber: o amor próprio alheio (afinal, o meu amor próprio é o único que, no seu egoísmo infantil, não pode nem sequer tomar umas palmadinhas para ser educado)... Dá-lhe psicologismo que afaga o ego da barbárie!

E, para completar a inquisição laica, se o palpiteiro costuma entrar numa Igreja para uma rezinha ou num botequim da fé para um trago de “unção”... aí sim, é que o “bicho pega” mesmo (ou será a bicharada?!)...

Como acontece em toda disputa conflituosa, os lados mais agressivos e violentos precisam sacrificar “bodes expiatórios” para aplacar a sede social de vingança ou justiça de todos. Isto se faz necessário porque, a sociedade, mal resolvida com o drama da vida, procura uma loca na pedra, no fundo de suas angústias, para a desova de suas revoltas.

Neste caso, já que é necessário oferecer aos deuses da vontade própria o sacrifício de alguma vítima agradável, melhor então que seja dos bichinhos mais mansos e inocentes, também em termos de política: os cordeirinhos e os pombos, ambos branquinhos, no sentido de pálidos que ficam com tanto ódio destilado pelos predadores da política... Haja cordeiro e pombo para aplacar a ira dos tubarões do planalto central...

O mais curioso é que, para ajuntar os votos das ovelhas e pombos assustados, não faltam professores (marqueteiros) que prometem ensinar os lobos a comportarem-se como cordeiros e as aves de rapina como rolinhas...

E o fazem tão bem que muitas as ovelhas e os pombos, que costumam viver agrupadinhos à mercê de trato e proteção, logo-logo se ambientam com os traquinas e oferecem-lhes – numa inocência estúpida - o VOTO de confiança, inclinando o pescoço como súditos leais e expondo aos patífes a parte mais frágil de sua natureza existencial: a fé.

Pior, alguns cordeiros e pombos (metidos a vacas de presépios com pedigree e águias domadas), de olho na prole que poderia advir dos falsos machos dominantes do poder público e/ou econômico, repudiam seus pares pela certeza de “fé” nada bíblica: a de que o lobo em pele de cordeiro seria, quem sabe, mais cordeiro que os cordeirinhos inseguros que tem medo de lobo...

O duro é que tem pastores católicos e protestantes metidos a bestas – quiçá do apocalipse – fazendo festa com cada ovelha que leva no ombro para depositar sob os pés da Rainha de Sabá...

É... Há grande festa no inferno quando noventa e nove ovelhas acreditam que o aborto é menos grave que a causa IDEOLÓGICA da pobreza...

E há uns que insistem em tentar “tapar o sol com a peneira”, enviando e-mails desesperados para lá e para cá tentando convencer os desavisados que descriminalizar o aborto é a mesma coisa que dar tratamento de saúde pública a quem recorre a esta prática hedionda, mesmo que na forma vigente da lei...

Deviam sim, é fazer um plebiscito para perguntar ao povo se ele (POVO MAIORIA) quer a manutenção desta lei, a qual prevê que em casos de estupro e risco de morte da gestante que se faça o aborto.

Por que será que aqueles que se sentem tão seguros de fazer a vontade do povo não têm coragem de perguntar isto ao povo? Como diziam os antigos, tem algo de podre no reino da Dinamarca... O que a Dinamarca tem que ver com isto não sei, mas que tem algo de podre aí, ah... isso tem!

Seja como for, já que o homem de elevada consciência ecológica de nossos dias cultua tanto os animais, por que será – ao menos por idolatria estúpida que seja – não se lhes observa melhor o comportamento para certificar que os adoráveis bichinhos de todas as espécies podem até não falar, coitadinhos, mas, pelo menos não combinam entre si e nem realizam silenciosamente esta prática de matricídio intra-uterino?!

Assim, já que o ser político não deve incluir na sua consciência política o estatuto Moral de um Deus feito Homem, segundo o pensamento corrente entre os que se acreditam formadores de opinião, quem sabe poderia ao menos prestar este culto idolátrico a deuses feito animais?! Isto ao menos daria direito de inocentes conhecerem este mundo de cão que ninguém quer largar o osso, não é verdade?!

Na Arca de Noé, a dádiva da pacificação entre predador e presa veio do horror comum e instintivo da possível extinção de todas as espécies. A possibilidade de sucumbir todos, é mais valiosa do que a ameaça de eliminar alguns, embora isto também seja muito lucrativo para tantos. Ao invés, no trenó de Noel, a desgraça do conchavo de ocasião entre o calhorda e o pudico, vem da premiação privilegiada que podem auferir desse acordo, algumas espécies que os inclua.

Nesta selva apocalíptica, as espécies mais recônditas da animalidade humana se manifestam com todos os dentes, bicos e garras... Até os domésticos cães, cada qual defendendo o doce lar das suas verdades pessoais, começam a ladrar. Entre os vira-latas de direita, os yorkshire de centro e os pitbuls de esquerda, há uma sinfonia só de reclames pessoais. Imaginem... até eu andei dando umas latidinhas...

Em todo caso, verdade seja dita. Yorkshire é tão dependente e frágil que só mesmo mantendo dentro de casa, por muito que faça peraltice. O famoso e tradicional vira-lata sabe se virar bem no quintal, não dá muito trabalho e costuma ser um bom guardião do lar e leal ao homem. Quanto ao pitbul, raça modificada geneticamente, há quem jure que é dócil e cordial se bem domesticado... Mas é bom prevenir com mordaça e manter no canil. Fato é que eu não ponho minha mão na boca desse bicho sob o risco de experimentar uma tonelada de embocadura assassina... Quem quiser que o faça...

Bem... Já que a internet se tornou a nação global da charlatanice - com a licença omissa dos não calhordas – aproveito para balir uns gemidos angustiados de ovelha perdida. Aturdido pelo assombro vociferante dos uivos cheios de ódio, vou me escondendo o quanto posso na metáfora dos animais, pelo menos, na era ecológica, tenho alguma chance de ficar protegido, já que os homens de hoje tratam com mais respeito e dignidade os animais irracionais que tratam os animais racionais, seus semelhantes...

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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