O "dízimo", em seu sentido original, é uma instituição do Antigo Testamento, da Lei Mosaica, já foi superado para "os Filhos do Reino", isto é, para nós cristãos (Estudo da CNBB, n. 08  - Pastoral do Dízimo, p. 27). No Novo Testamento o que vigora é a partilha, a comunhão de bens, a atenção aos pobres, às coletas em ajuda de comunidade em dificuldade (2Cor, 9, 1-15); o sustento (salário) de quem se dedica totalmente ao Evangelho (Lucas 10, 7). O que prevalece é uma vida comunitária intensa, baseada no ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna dos bens (os necessitados, neste clima de partilha, deixam de existir), no partir do pão (Eucaristia: força de comunhão) e no clima de oração e alegria (Atos dos Apóstolos 2, 42 e 4, 32-37). o dízimo, instituição da Lei Mosaica, como vimos, foi superada, mas a palavra dízimo tem toda uma ressonância bíblica e tradicional que pode e deve ser valorizado dentro de um novo contexto e sentido histórico. O sistema do dízimo parece pastoralmente rico e o mais indicado como sistema de contribuição.

O dízimo seria, então, uma contribuição:
a) sistemática (mensal, por exemplo);
b) de compromisso moral com a comunidade (não jurídico);
c) fixado de acordo com a consciência de cada um (sem índice aritmético).
Tirar-se-ia assim da palavra dízimo suas conatações matemáticas e históricas. (Estudos da CNBB, n. 08 - Pastoral do Dízimo, p. 51)

Assim, o Dízimo será a contribuição daqueles que se sentem membros vivos da Igreja. Nada se pedirá daqueles que não mais aceitam a Igreja ou que dela se afastaram ou não querem dela mais precisar. destes, nada se poderá exigir. Já estão, na prática, separados da verdadeira comunidade cristã. Como não se sentem com deveres, também não tem mais direitos.

Todos somos responsáveis pela construção do Reino de Deus. Devolvendo (pagando) o Dízimo, o homem ou mulher cristã está ajudando sua Igreja para sua sustentação, na sua missão apostólica, evangelizadora, promotora da pessoalmente humanas e dispensadora dos bens espirituais, através dos seus ministros e servidores.

Devolver o Dízimo é um ato de confiança: ofereço (sacrifício) uma pequena parcela de meus bens, do fruto de meu trabalho e daquilo que administro, pois não sou dono, mas fiel administrador, com a certeza de que Deus não deixará de abençoar-me e não deixará faltar-me o necessário.

O Dízimo não é imposto religioso, não é taxa e nem esmola para Deus ou para a Igreja. É uma oferta consciente e livre, corresponsável e comunitária, transbordante de alegria e de ação de graças ao Senhor, com a finalidade de:

* sustentar o culto e as pessoas que dedicam toda a sua vida, sem outro meio de sustento, ao serviço do povo de Deus, à Evangelização e à difusão do reino de Deus;
* Dinamizar a caridade;
* Amparar e socorrer os necessitados.

Mas, não s epode pensar e praticar o Dízimo, sem espírito de comunidade. Onde não há comunidade, jamais haverá Dízimo. É bom conferir Atos 2, 44-46.

Por outro lado, não há autêntica "comunhão dos cristãos" sem um mínimo de 1comunhão  de bens'.

Quem nada tem, também nada pagará de Dízimo. Acontrário, este deverá receber de sua comunidade, através do dízimo comunitário, com o qual a comunidade mesma tem o dever de ajudar aos pequenos necessitam: pobres e doentes.

Termino com estas palavras de nossas Diretrizes definem muito bem o objetivo da Pastoral do Dízimo 'despertar e incentivar a comunidade à prática do ato de amor, gratidão e partilha para com Deus e os irmãos, conscientizando da corresponsabilidade de cada um, por tudo o que diz respeito à Igreja. incentivar a sociedade à necessidade de gratidão a Deus e aos irmãos e à consciência da partilha como ato concreto do amor cristão' (DAE da Arquidiocese de Porto Velho, p. 37).

Faço votos de o Dízimo em seu sentido profundo e também concreto se reforce em todas as Paróquias e Comunidades. "O Dízimo, numa comunidade eclesial, não é a coisa mais importante, mas, certamente, é um sinal visível de sua maturidade" (Pe Domingos Barbé).

 

Dom Moacyr Grechi

Arcebispo de Porto Velho