Dom Benedicto de Ulhoa Vieira*

Todos nós admiramos quando tomamos conhecimento de algum fato incomum de pessoa que estimávamos, cuja vida era exemplar. Dias atrás, tivemos a notícia da exumação do corpo da Irmã Dulce, da Bahia, encontrado em perfeito estado de conservação, íntegro como se ela tivesse falecido há apenas um dia. Só o hábito religioso estava um pouco desbotado. Isto, dezoito anos após sua morte.
Não é o primeiro caso. Há outros, na vida de algumas pessoas, geralmente falecidas com fama de santidade. Irmã Dulce, pela extrema dedicação aos pobres e necessitados, já em vida era considerada como "santa" pelo povo, por ter testemunhado seu desprendimento, sua solicitude pelos menos favorecidos, sua ação caritativa e singular testemunho de santidade. Isto agora ficou evidente pelo privilégio da conservação de seu corpo que o sepulcro não corrempeu.
Este privilégio Deus concede a algumas pessoas, mas nem sempre a todos os santos. Temos conhecimento de outros casos na história hagiográfica. São Benedito, negro, falecido há mais de 500 anos, tem seu corpo intacto lá numa igreja franciscana de Palermo - Itália. Santa Bernardete, que viu Nossa Senhora nas aparições de Lourdes, está intacta em Nervers, na França. São Pio X, papa no início do século XX, se conserva na Basílica de São Pedro em Roma. São João Maria Vianney, em cuja honra, o Papa atual decretou o ano sacerdotal, ora terminado, repousa na igreja paroquial de Ars na França. Tive a graça de ver pessoalmente estes citados casos. Sei que o Papa João XXIII também está intacto, mas não tive ainda a graça de vê-lo.
É claro que a Igreja, ao decretar a canonização de um novo santo, não se apóia neste sinal da consevação do corpo, pois tais casos são poucos. É na história da vida da pessoa e nos milagres cientificamente comprovados e testemunhados, obtidos por intecessão do santo, que o processo de canonização se fundamenta e tem êxito.
O caso de Irmã Dulce, cujo corpo íntegro foi exumado, muito provavelmente deve merecer a abertura de processo canônico na Arquidiocese de Salvador, na Bahia (se já não tiver sido instalado) para que, por graça de Deus, tenha um dia uma conclusão feliz, que todos desejamos.
A integridade corporal de irmã Dulce deve despertar nos brasileiros um estímulo forte de vivermos como cristãos, como ela vivera, na alegria do amor efetivo a Deus e aos irmãos que nos cercam. A preciosa vida de Irmã Dulce de verdadeiro amor ao próximo deve iluminar nossa caminhada terrestre. E precisamos agradecer aos céus o singular exemplo de amor a Deus e ao próximo com que ela iluminou a Igreja da Bahia e do Brasil.

*Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.