Dom Benedicto de Ulhoa Vieira*

Lendo alguns discursos do Papa Bento XVI nas visitas a países da Europa, percebe-se a preocupação do Pontífice com a ausência de Deus em muitas regiões do mundo, sobretudo da Europa. Na Baviera em 2006, afirmava ele que o Ocidente está ferido de morte, isto é: "sofre de patologias mortais da religião e da razão". Há em muitos países um desprezo de Deus, que chega às vezes à ridicularização do sagrado. Triste!
Substitui-se Deus por ídolos, voltando nossos olhos e nossa vida à época pré-cristã. Por isto o Papa lembra aos franceses que "ídolo é engano" e é a tentação de nossa época: o dinheiro, a sede do ter, do poder e do saber. No elenco das prioridades, Deus se encontra quase sempre no último lugar.
Em um discurso o Papa cita São Gregório Magno: "É possível que um homem diga não ao que há de maior, que não tenha tempo para o que é mais importante?". Absorvida para as coisas materiais, a criatura humana se debilita e se torna árida diante do que se refere a Deus.
O tempo que se emprega para Deus nunca é tempo perdido, lembrou o Papa no Natal do ano passado. Intoxicados estamos pelos atuais instrumentos de comunicação - jornais, rádio, televisão. Por isto o Papa pede aos sacerdotes que sejam mestres, "especialistas na promoção do encontro do homem com Deus".
Na quarta-feira, véspera do feriado de "Corpus Christi", o Jornal Nacional filmou a longa e vagarosa fila de carros, descendo para o litoral paulista na certeza dos viajantes de prolongar impunemente o feriado religioso por mais três dias! Lembrei-me então da preocupação do Santo Padre sobre o lugar de Deus na nossa vida: teriam as pessoas lembrado que o feriado era um dia santo, portanto dedicado a Deus?
No momento atual de "nostalgia de Deus", quer a Igreja acolher os que vivem distantes, fora da órbita de sua ação. Assim como no Templo de Jerusalém havia um espaço para os não-judeus - era o "átrio dos gentios" - assim a Igreja de Jesus Cristo pretende acolher os que só conhecem a Deus "de longe". Para muitos, Deus é desconhecido, como nos tempos do apóstolo Paulo, que encontrou um altar ao deus desconhecido (cfr. Atos dos Apóstolos 17, 23).
A ideia de um "átrio dos gentios" é de Bento XVI, preocupado com os agnósticos e ateus, sobretudo da Europa, que aceitam dialogar com o Conselho Pontifício para a Cultura. Neste novo "átrio dos gentios", a Igreja seria então a árvore frondosa e acolhedora de muitos pássaros, para os que vivem distantes, mas sentem-se como que saudades de Deus. A Igreja é, sem dúvida, portadora de esperança também para os que não são seus membros, mas aceitam hospedar-se neste novo "átrio dos gentios". Assim ficarão mais perto de Deus, abrigados à sombra da frondosa árvore da vida. Um dia eles hão de voltar...

*Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro